Estudo recente de consultoria com base na Pnad Contínua, revela que 12,3 milhões de brasileiros de até 29 anos, no segundo trimestre de 2021, representando 30,5% da faixa etária, nem trabalhavam nem estudavam. Grupo significativo dos chamados “nem-nem” – jovens que nem trabalham, nem estudam, sobrevivendo precariamente em uma situação socioeconômica desprovida de qualquer perspectiva, no futuro do País. Cenário agravado com o surgimento da pandemia em 2020, embora o percentual já houvesse alcançado o altíssimo patamar de 27,9% do total no primeiro semestre de 2019.
Viajamos recentemente 2.000 quilômetros na BR-101, pelos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Cenas de pobreza extrema, pessoas desempregadas vendendo frutas, verduras, legumes e comida artesanal em estruturas precárias próximas ao acostamento ou em pequenos grupos de ambulantes nas ruas e cruzamentos de pequenos vilarejos. Mulheres, adolescentes e negros de baixa escolaridade, exclusão social e preconceito, são as principais razões da vulnerabilidade desse grupo, sem emprego nem renda, muitos param de estudar no meio do caminho para ajudar suas famílias, malhados impiedosamente pela bigorna da opressão socioeconômica, que mantem gerações de pessoas na pobreza.
A taxa de jovens brasileiros da chamada “geração nem-nem”, é o dobro de países ricos. Em 2020, 35,9% dos adultos de 18 a 24 anos no Brasil não estavam nem na escola nem empregados, aponta um relatório recente da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). O índice de desemprego de adultos entre 25 e 34 anos que não concluíram o ensino médio, também cresceu acima da média no Brasil. Entre os que procuram trabalho há mais de dois anos, metade tem entre 17 e 29 anos, dois em cada três são mulheres com pouca escolaridade, a quem resta recorrer à informalidade ou permanecer no desalento.
Preocupante cenário que se traduz em perda de produtividade e de capital humano, diminuindo as já remotas chances do País de aproximar-se do nível de desenvolvimento dos países mais ricos. Percentual de jovens “nem-nem” deve cair no futuro, não pela melhoria das condições socioeconômicas, mas porque o Brasil deve perder o bônus demográfico – ou seja, haverá mais dependentes, entre idosos e crianças, do que habitantes em idade de trabalho, entre 15 e 64 anos. Enquanto isso os mais empregáveis ou qualificados estarão sujeitos a salários achatados e maiores demandas de produtividade. O Atlas das Juventudes da FGV Social estima que 47% dos jovens de 15 a 29 anos desejam sair do País se tivessem oportunidade, desespero evidenciado pela crescente massa de brasileiros cruzando perigosamente a fronteira do Estados Unidos com o México, em busca de um futuro melhor. Esse não é o Brasil que eles merecem!
Palmarí H. de Lucena, membro da Uniao Brasileira de Escritores