Quando pensamos em envelhecimento, é comum assumir que nossa capacidade cognitiva diminui à medida que os anos avançam. Os pensamentos podem se tornar mais lentos, a confusão pode se instalar e esquecimentos aparentemente simples, como o nome do professor do ensino médio ou a lista de compras do supermercado, tornam-se cada vez mais frequentes.
No entanto, há uma exceção notável a essa narrativa convencional: “os superidosos”. Esses indivíduos, com 80 anos ou mais, desafiam as expectativas ao exibirem uma memória tão afiada quanto a de alguém duas ou três décadas mais jovem.
Por mais de uma década, os cientistas têm investigado esse grupo exclusivo, buscando entender o que os torna tão excepcionais. Em contraste com a maior parte da pesquisa sobre envelhecimento e memória, que se concentra nos desafios enfrentados por aqueles que desenvolvem demência mais tarde na vida, esses estudos lançam luz sobre o outro lado da moeda, explorando os segredos da mente resiliente dos superidosos.
Recentemente, um estudo publicado no “Journal of Neuroscience” trouxe novas revelações sobre os cérebros desses superidosos. Ao analisar um grupo de 119 octogenários espanhóis, os pesquisadores descobriram que eles apresentavam menos atrofia cerebral do que seus pares. Mais notavelmente, regiões como o hipocampo e o córtex entorrinal, vitais para a memória, mostraram-se mais volumosas nos superidosos, enquanto a conectividade entre áreas cerebrais relacionadas à cognição também estava mais bem preservada.
Essas descobertas desafiam a noção de que o envelhecimento inevitavelmente leva a uma deterioração cognitiva. Em vez disso, sugerem que uma resistência ao declínio relacionado à idade pode ser alcançada, apontando para a importância de explorar não apenas o que dá errado com o envelhecimento, mas também o que pode dar certo.
Entretanto, o mistério permanece sobre o que torna alguém um superidoso. Embora diferenças em saúde e estilo de vida entre superidosos e adultos mais velhos tenham sido observadas, como melhor saúde física e mental, bem como maior atividade física na meia-idade, não há uma fórmula definitiva para alcançar esse status. Parece que há uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais em jogo, uma “sorte” molecular que ainda não compreendemos totalmente.
No entanto, uma coisa é clara: investir em hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, atividade física regular, sono adequado e conexões sociais significativas, pode desempenhar um papel crucial na promoção de um envelhecimento cerebral saudável. Esses hábitos não garantem a entrada no clube exclusivo dos superidosos, mas podem ser um passo na direção certa para desvendar o segredo de uma mente resiliente à passagem do tempo.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores