Os pratos voadores da familia Kennedy

A colonização portuguesa em Angola durou mais de quinhentos anos, terminou em 1975 após a queda da ditadura em Portugal. Com a saída dos portugueses, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), tomou o controle das principais cidades do país. Estabeleceu um sistema unipartidário e uma economia estatal baseada no modelo do Leste Europeu. Os problemas econômicos se agravaram, o mercado negro floresceu. Os intermináveis combates com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), o movimento rival do MPLA, forçaram a realização de uma reforma aproximando o país à economia de mercado, em 1985. Após abandonar o marxismo-leninismo em 1990, o governo intensificou negociações com a UNITA. A guerra civil dividia e empobrecia o país. Terminou em 1991, quando concordaram na promulgação de uma constituição multipartidária. A Esperança Sagrada do poeta-presidente da Angola, Agostinho Neto, o primeiro mandatário da Angola, parecia estar mais próxima, em mais de quinhentos anos.

Amanhã/entoaremos hinos à liberdade/quando comemorarmos/a data da abolição desta escravatura/Nós vamos a busca de luz/Os teus filhos Mãe/(todas as mães negras/cujos filhos partiram)/Vão em busca de vida…

Luanda em 1991 era uma colméia de delegações governamentais, bancos multilaterais, companhias de exploração de petróleo e diamantes, empresários da construção cível e ONGs. Verdadeiro sarapatel de interessados e desinteressados em ajudar o país. Nos Estados Unidos, o Partido Democrata, liderado pelo Senador Teddy Kennedy, fazia um intenso lobby para a reaproximação com o governo da Angola, um dos seus parceiros mais importantes na área de exploração de petróleo.

Michael Kennedy, o filho mais velho de Bobby Kennedy, após observar as eleições de 1991, se converteu em um ardente partidário da reconciliação com o governo da Angola. O jovem Kennedy era presidente da Citizens Energy Corporation , uma empresa petrolífera norte-americana sem fins lucrativos. Uma delegação liderada por ele e sua mãe, a viúva de Bobby Kennedy, Ethel , visitaram as organizações católicas. Definiram as necessidades urgentes dos projetos da igreja Católica, no país. Nessa ocasião, nos comunicaram que os Kennedys e associados doariam medicamentos, sapatos, roupas e brinquedos para crianças pobres, aos cuidados das missões católicas. Concordamos então, que serviríamos como ponto central de logística e apoio administrativo, para a distribuição das ajudas dos Kennedys.

Meses após nossa reunião, nos informaram que vários containeres com as doações, haviam chegado em Luanda. Um deles, quase totalmente cheio de “frisbees”. Um brinquedo em forma de disco, geralmente feito de plástico com diâmetro entre 20 a 25 centímetros. Seu formato permite o vôo quando são lançados em rotação. Era popular nos campi das universidades norte-americanas. Uma irmã católica aceitou a doação em nome da igreja. Chamava-se Michelle, creio. Projeto concluído, caso arquivado.

Um ano depois, recebemos uma chamada do editor da seção “Rir é o melhor remédio” das Seleções Reader’s Digest. Queriam verificar uma historia que haviam recebido sobre uma doação de “frisbees”, na Angola. Mencionaram que haviam obtido um copia, de uma carta da Irmã Michelle, agradecendo a doação dos Kennedys. Continha uma observação interessante, sobre pratos voadores: Eles são ótimos, disse, estamos muito gratas. Talvez as empresas que os doaram, possam melhorar seus lucros vendendo os pratos como brinquedos. Eles são difíceis de usar como pratos, porque são côncavos e as crianças preferem utilizá-los como brinquedo. Voam quando arremessados. É mais divertido, assegurou. Consultei nosso diretor. Ele sugeriu que eu não noslembrassemos da doação. A revista nunca publicou a história. Não conseguiram obter as três fontes, para confirmar a veracidade da informação, como de praxe.

Michael Kennedy morreu em Aspen, Colorado, em um acidente de ski em 1997, aos trinta e nove anos de idade. Seu sonho de paz na Angola não foi realizado até o dia 04 de abril de 2002. As relações entre os Estados Unidos e Angola se normalizaram.

Angola 1991