Negligenciado nas listas das prioridades de saúde pública, a falta de cuidados oftalmológicos e limitações no acesso à óculos de grau, são considerados sérios obstáculos para o progresso socioeconômico de mais de um bilhão de pessoas. Caso confirmada a tendência, quase a metade de população mundial sofrerá de miopia em 2050. Doenças passiveis de prevenção ou curáveis como AIDS, malária e tuberculose atraem investimentos massivos, em contraste, compras de óculos recebem menos de 1% dos recursos destinados a saúde global.
Crianças necessitando lentes corretoras são as mais prejudicadas considerando que 80% do aprendizado escolar ocorre através da visão. Estima-se que um par de óculos de grau poderia corrigir problemas de visão de 239 milhões de crianças no mundo. Miopia ou visão limitada é geralmente diagnosticada entre 8 e 12 anos de idade, estudos sugerem que óculos adequadamente prescritos teriam maior impacto no desempenho acadêmico, do que qualquer outra intervenção de saúde pública.
O quadro no Brasil é alarmante. Dados epidemiológicos do Conselho Brasileiro de Oftalmologia reportam que o número de crianças precisando de lentes corretivas aumentou do 10% para 20% nos últimos dez anos. Segundo um estudo do Instituto Penido Burnier, a hipermetropia, dificuldade de enxergar próximo, é o problema de visão mais encontrado nas crianças brasileiras. Problema agravado pelo esforço para enxergar de perto imposto pelo uso precoce da tecnologia, muitas vezes sem supervisão.
Falta de cuidados oftalmológicos e óculos de grau são detrimentos ao desempenho acadêmico e produtividade do povo brasileiro. Parcerias entre fabricantes e donos de redes de varejo ótico, entidades governamentais e organizações da sociedade civil, potencializariam a captação de recursos para a inclusão de kits oftalmológicos para estudantes do ensino médio e a fabricação ou disponibilização de óculos à preço módico. Precisamos de uma visão comum, os olhos não podem esperar …
Palmarí H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores