Os meninos de Cunha

O melodrama político da cassação do todo-poderoso Eduardo Cunha fechou a cortina do teatro do absurdo, protagonizado por uma turba de anti-heróis, bajuladores e ilusionistas do poder. Traído e derrotado, seu personagem principal nunca havia considerado a grande lição do filosofo Sêneca: “Vê aqueles que elogiam a eloquência, escoltam a riqueza, adulam os benfeitores, louvam o poder? Todos são inimigos, ou podem sê-lo.” Muitos foram… Acólitos do desgraçado parlamentar desapareceram na calada da noite à procura de um refúgio nas trevas, longe da cumplicidade nos deslizes éticos e do prestígio inerente à proximidade das benesses do poder corruptor.

Capilarizando manobras escusas e valendo-se do quid pro quo político para obter tração eleitoral em lugares distantes de Brasília, os “meninos de Cunha” se reinventando como protagonistas em pleitos municipais. Buscando a manutenção dos

seus privilégios e imunidades através de candidatura a cargos menores, eventualmente tomando posse do cargo máximo da municipalidade no término do mandato federal. Usando influência política e esquemas corporativos, o parlamentar direcionaria emendas e outras verbas para viabilizar a nova empreitada eleitoral.

Tentativas de agentes políticos de demonizar investigações de práticas corruptas e de aproveitar-se de brechas na legislação eleitoral, expõem a natureza transacional e os riscos de conflito de interesses inerente à atividade política contemporânea. Por um lado, temos políticos tentando debilitar as normas constitucionais que eles juraram defender, por outro lado, temos membros concursados do serviço público abrindo as portas do governo de uma maneira transparente, com rigor técnico e dever de diligência.

Esforços de mudar nossas instituições serão inviabilizados se o eleitorado permitir que esquemas de permanência no poder, apadrinhados políticos e herdeiros de capitanias eleitorais hereditárias, continuem frustrando possibilidades de escolhas genuinamente democráticas de candidatos aos cargos eletivos municipais.

Palmarí H. de Lucena, membro de União Brasileira de Escritores