Desde as revoluções francesa e americana ao colapso do comunismo soviético, a narrativa política do Ocidente revolveu em torno de questões eminentemente políticas. Debatíamos sobre guerra e revolução, classe e justiça social, raça e identidade nacional. Chegamos hoje a um momento da história que nos remete as batalhas do século XVI, sobre revelação e razão, pureza dogmática e tolerância, inspiração e consentimento, direito divino e decência comum. Estamos presenciando a fragilização da democracia e sérios desafios a laicidade criada pela rebelião intelectual contra a teologia política.
Hoje, temos uma abundância de exemplos da influência da teologia política na escolha de lideres, questionamento de certos aspectos dos direitos humanos e na desagregação de políticas públicas pertinentes a manutenção de um estado laico e republicano. Devido sua preponderância econômica, poderio bélico e o nacionalismo eurocêntrico da ideologia do “América First” apoiada pela direita alternativa, conservadores republicanos e denominações evangélicas, os Estados Unidos é o caso mais preocupante. Lideres de vários países na Europa e América Latina também demonstram inclinação ao autoritarismo, revanchismo contra a laicidade e viés religioso na escolha de membros para altos cargos do Poder Executivo e Ministério Público.
Boa parte do povo americana dá sinais de estar confusa pelo apoio inquebrável de “cristãos brancos conservadores” ao Presidente Trump, mesmo sabendo da imoralidade, desonestidade e desvios de professos valores cristãos do político, antes e depois de ser eleito. A história mostra que não é a primeira vez que cristãos americanos puseram suas virtudes de lado, para apoiar um notório desviante das crenças e valores por eles subscritos. Apesar de pregar valores de família ou alegar superioridade moral, evangélicos americanos são sofisticados e pragmáticos. Quando um aliado político age hipocritamente ou comete deslizes morais, simplesmente oram pelo seu arrependimento e regeneração, sempre questionando uma primeira pedra atirada por seus acusadores.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores