Onde mora a indignação?

Onde mora a indignação?

A tepidez da indignação popular ou descontentamento com desacertos e prevaricação no combate da pandemia COVID-19, que já causou a morte de mais de 90 mil brasileiros e contaminação que ultrapassa 2,5 milhão de pessoas, deixam-nos incrédulos sobre o rumo da epidemia de indiferença espalhando-se pelo País. Taxas de contágio continuam crescendo, mortes avançam impiedosamente pelo sombrio panorama de desespero e descrença, aumentando incerteza de dias melhores. Ainda estamos na primeira fase da pandemia, sem saber o que nos espera ao dobrarmos as esquinas perigosas de uma nação fissurada pela banalidade ideológica, usando o presente para destruir o passado e entorpecendo possibilidades de um futuro rejuvenescedor.

Presenciamos o espetáculo surreal de desinformação e negacionismo promovido por aqueles, que deveriam enfrentar os desafios da pandemia, liderando o País na busca de soluções duradouras para a crise sanitária, sequelas na economia e o bem-estar da população. Obuses letais do populismo disparados contra cientistas, pesquisadores e infectologistas, politizando a pandemia de um modo que pessoas estão recusando o uso compulsório de máscara, como se fosse uma violação aos seus direitos.

Doação de Donald Trump e a empresa Novartis de 3 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina em frascos de 100 comprimidos para o combate à covid-19, pode transformar-se em carga financeira para as entidades receptoras, que devem separar e empacotar a droga em doses indicadas para pacientes, sob supervisão farmacêutica. Adicionando insulto ao agravo, pessoal do Ministério da Saúde sugeriu que Estados assumissem a responsabilidade pelo custo do fracionamento, na mesma data que a Sociedade Brasileira de Infectologia reiterou a ineficácia da hidroxicloroquina na prevenção e cura da doença, recomendando que a droga “ […] deve ser abandonada em qualquer fase do tratamento da covid-19”.  Coincidentemente, posição similar a da US Food and Drug Administration, ao desautorizar o uso emergencial da droga.

Nos transformamos em uma imitação grotesca das políticas falidas de Donald Trump, uma república de bananas a serviço da demagogia e narcisismo do líder americano. Alinhamento automático com seus mais vexatórios aspectos, possivelmente um alto custo de reputação para o Brasil e perda de protagonismo na comunidade das nações.

Perguntamos então, onde mora a indignação? Como é possível que isto esteja acontecendo? Como estamos aceitando isto continuar? Até quando estaremos permitindo que seres humanos morram, enquanto políticos se ocupam com o ritual macabro de manter-se no poder, custe o que custar?

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • ANGELICA MARIA MOREIRA disse:

    Excelente!! É sempre uma narrativa inteligente, que nos faz pensar e refletir. Parabéns escritor pelo Compartilhamento.

  • Lydia Jean Peña disse:

    Peor que la pandemia son éstos políticos, todos mentirosos y corruptos. ¿Existe la democracia para ésto?

  • Neroaldo Pontes de Azevedo disse:

    Reflexão pertinente e atual sobre o drama da pandemia e, tão grave quanto, sobre a incapacidade do governo federal de respeitar o povo brasileiro, neste momento tão grave.

  • Marceleuze disse:

    Percebo, com tristeza, a banalização da morte de quase 100.000 brasileiros e o enlutamento de suas famílias.
    Mas, a indiferença política e governamental, trata estes dados tenebrosos como ocorrências corriqueiras.
    Um manto de indiferença é estendido sobre a realidade.

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