Nos últimos anos, tem-se discutido intensamente se o Ocidente possui um duplo padrão em relação a Israel. Alguns argumentam que o país é constantemente alvo de críticas severas e desproporcionais, enquanto outras nações cometem ações semelhantes e recebem menos escrutínio. Essa questão é controversa, mas merece ser analisada sob uma perspectiva mais ampla.
É fato que Israel enfrenta um escrutínio mais intenso em relação à sua opressão aos palestinos, em comparação com outras violações de direitos humanos ao redor do mundo. Por exemplo, em 2023, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou 15 resoluções críticas a Israel, enquanto apenas sete foram direcionadas a todos os outros países. Isso é realmente imparcial?
No entanto, devemos reconhecer que também há falta de atenção para outras atrocidades em diferentes partes do mundo. Enquanto o mundo se concentra em Gaza, o Sudão enfrenta uma onda de atrocidades contra crianças, com milhões delas deslocadas e sofrendo de desnutrição grave, de acordo com a Unicef. Além disso, as atrocidades em massa que ocorreram em Darfur, no Sudão, têm sido amplamente ignoradas pela comunidade internacional. Também não devemos esquecer os sérios abusos perpetrados por governantes árabes em países como Síria e Iêmen.
Portanto, sim, existe um duplo padrão na atenção global. É essencial apontar essa disparidade e discuti-la abertamente. No entanto, não podemos usar a hipocrisia do mundo para justificar as mortes de milhares de crianças em Gaza. Embora possamos ressaltar a inconsistência e buscar um tratamento mais justo, não devemos perder de vista a tragédia que está ocorrendo no território palestino.
É importante refletir sobre o motivo pelo qual Gaza se tornou um local de grande preocupação. De acordo com a Unicef, é considerado o lugar mais perigoso do mundo para ser uma criança. Comparado aos números de vítimas infantis em conflitos recentes, como na Ucrânia, em que pelo menos 545 crianças foram mortas em 18 meses, ou nos conflitos ao redor do mundo em 2022, que resultaram na morte de 2.985 crianças, as estatísticas alarmantes de Gaza, em menos de cinco meses de guerra, relatam a morte de mais de 12.500 crianças.
Portanto, devemos nos esforçar para superar esses duplos padrões, independentemente de sua natureza, e trabalhar em direção a um mundo mais justo e compassivo. Isso requer a responsabilização de todos os violadores de direitos humanos, independentemente de sua nacionalidade ou posição política. Somente assim poderemos aspirar a um futuro no qual todas as crianças, em qualquer lugar do mundo, sejam protegidas e tenham a oportunidade de crescer em sociedades pacíficas e justas.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores