Muitas notícias recentes têm se concentrado em discutir a eficácia e possíveis efeitos colaterais do medicamento Ozempic® e de outros similares, porém a verdadeira história só poderá ser contada quando esses tratamentos se tornarem rotineiros, o que certamente acontecerá no futuro. Considerando o número de pessoas acima do peso em todo o mundo, podemos deduzir que a maioria delas preferiria não estar nessas condições.
Segundo a OMS, os EUA têm uma taxa de obesidade de cerca de 36,2%, mostrando que mais de um terço da população é considerada obesa e cerca de 32,4% está acima do peso. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem uma taxa menor, de 22,2% de obesidade e a mesma taxa de sobrepeso dos americanos. Enquanto na China, a taxa de obesidade triplicou entre 2004 e 2018, estatísticas mostram que mais da metade da população adulta da Europa é considerada obesa ou com sobrepeso.
Desde que uma série de estudos mostrou a eficácia do semaglutide na perda de peso, a empresa farmacêutica Novo Nordisk está enfrentando um crescente problema, simplesmente não conseguindo produzir o suficiente de Ozempic e Wegovy, outra marca para o medicamento. Em setembro de 2023, a Novo Nordisk ultrapassou a varejista de artigos de luxo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton) e se tornou a empresa mais valiosa da Europa. Sua capitalização de mercado, estimada em US$ 450 bilhões, superou o PIB anual da Dinamarca. Analistas estimam que, até o final da década, os agonistas do GLP-1 poderão alcançar um valor de US$ 100 bilhões por ano em todo o mundo.
O aumento das taxas de obesidade gerou duas repúblicas pelo mundo: os habitantes da República do Magro, em sua maioria, atribuem seu tamanho ao poder da vontade e à responsabilidade pessoal, ao invés de riqueza ou sorte genética. Já na República do Gordo, há uma distribuição desigual de esperança. Algumas pessoas sentem que o milagre pelo qual elas vinham rezando finalmente chegou, estão felizes em abandonar sua identidade como “amigo gordinho” ou “gigante gentil” e cruzar a fronteira para a Magreza. Em contrapartida, aqueles que não mudam se sentem duplamente julgados pelas pessoas magras, que sempre os olharam de cima, e pelos antigos camaradas que agora os abandonaram.
A obesidade está associada a vários problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, certos tipos de câncer e problemas musculoesqueléticos. Indivíduos obesos também podem enfrentar problemas psicossociais, como estigmatização e discriminação. Para combater a doença, são necessárias ações em várias frentes, incluindo políticas públicas que promovam alimentação saudável, atividade física regular, acesso a informações sobre nutrição e impostos sobre alimentos não saudáveis, que hoje afeta 13% da população mundial, estimando-se em 1.9 bilhão de adultos acima do peso ao redor do mundo.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores