O Xi da questão

O Xi da questão

Os líderes mais poderosos do mundo se reuniram em Nova Délhi para o evento diplomático mais importante do ano, a cúpula do G20, Xi Jinping, da China, considerou que não valia a pena seu tempo. Abandonar a cúpula marca uma virada dramática na política externa do seu país. Nos últimos anos, o líder chinês aparentemente buscou fazer da China uma alternativa ao Ocidente. Agora, está posicionando seu país como um robusto oponente, pronto para alinhar seu próprio bloco contra os Estados Unidos, seus parceiros e as instituições internacionais que eles apoiam.

Durante seu mandato, Xi Jinping tem buscado uma posição mais desafiadora em relação à ordem mundial liderada pelos Estados Unidos e seus aliados democráticos. Desenvolvendo instituições alternativas lideradas e controladas por Pequim, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, a fim de competir com o Banco Mundial e promover fóruns internacionais alternativos, como a Organização de Cooperação de Xangai, que inclui a Rússia e o Irã.

Em vez de instituições como o G20, Xi Jinping tem pressionado rivais que ele acredita poder dominar ou preencher com clientes amigáveis. Um desses fóruns é o grupo BRICS de países em desenvolvimento, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Pressionando para uma expansão rápida do filiados do BRICS, na cúpula de Joanesburgo, ele obteve o que queria. Seis países adicionais foram convidados a ingressar, incluindo pelo menos três (Egito, Etiópia e Irã) com laços políticos e econômicos próximos com a China.  

O líder chines parece perceber o futuro como uma competição binária entre a China dele e os Estados Unidos, um possível equívoco. A ordem global que está emergindo agora possui múltiplos centros de poder, cada um com seus próprios objetivos e interesses. A China não se tornará automaticamente a principal beneficiária da futura ordem mundial, nem o Sul Global necessariamente se unirá à sua bandeira em uma luta anticolonial renovada. Ao ausentar-se do G20, Xi não apenas reforçou oposição ao Ocidente, mas também arrogância em relação às potências emergentes que ele espera transformarem-se em aliados ou acólitos. Para vencer o grande jogo geopolítico, ele precisa estar nele. Em vez disso, optou por sair.

A visão e estratégias da China em relação ao Ocidente, podem gerar tensões e conflitos com outros atores internacionais e transformar organizações como o BRICS em arenas de lutas entre grandes atores globais, em detrimento das agendas nacionais e dos seus próprios interesses. Governos emergentes necessitam exercer temperança em posições políticas, que aparentam nutrir e subsidiar o viés anti-ocidental promovido pela China.

Na avaliação de muitos especialistas, o alargamento do BRICS com base nos países convidados, pode representar aumento da influência geopolítica da China, o que não assegura melhora no comércio exterior brasileiro, talvez até perda da potência de alavancar decisões no grupo, tensionamento das relações do Brasil com parceiros tradicionais, ceticismo da liderança sub-regional brasileira, fim da lua de mel com a União Europeia, Estados Unidos e países da OTAN. Podendo até transformar-se em um verdadeiro negócio da China!

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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