Aumento da taxa básica de juros pelo Federal Reserve (FED), elevou o dólar ao seu mais alto patamar em décadas, fazendo visitas a Europa e Asia mais baratas para turistas americanos, disponibilizando produtos e serviços importados a preços reduzidos e espremendo as economias dos seus maiores parceiros comerciais. Com o índice de preços ao consumidor crescendo mais de 9,1% no último ano, o ritmo mais rápido desde1981, o FED já sinalizou aumentos adicionais na taxa de juros a partir de 27 de julho.
Anos de baixa inflação e taxa de juros, estão sendo substituídos por uma era de grande volatilidade, com moedas nacionais sendo negociadas com maior amplitude. Impacto da guerra na Ucrânia deixou o mercado de alimentos e combustíveis de pernas para o ar, afetando principalmente a Europa e muitos países em desenvolvimento, apertando orçamentos de países dependentes da importação de petróleo precificado em dólar, o que ajuda explicar a valorização atual da moeda americana.
Países que necessitam de ajuda financeira para cobrir o pagamento de dívida externa, também sofrem o impacto negativo da supervalorização cambial. Enquanto o FED executa a mais agressiva política de contração desde 1980, a Europa e Japão ainda não enfrentaram o problema resolutamente. Dólar mais forte não é boa notícia para empresas americanas, seus produtos tornaram-se mais caros para clientes de países com moedas desvalorizadas, quando seus lucros são convertidos em dólar, causam ainda mais erosão nos seus resultados e valor de ações.
Segundo a OCDE, o dólar tem a maior supervalorização em trinta anos. Desafiando temores de que o uso agressivo de sanções econômicas para punir a Rússia pela invasão da Ucrânia, estimularia outros países a reduzir dependência no dólar, a moeda continua sendo a mais importante da economia global, representando 59% das reservas de bancos centrais. Além de arranjos permanentes de “swaps” de dólares por moedas nacionais com seus homônimos no Canada, Reino Unido, Europa, Japão e Suíça, o FED abriu a mesma janela para outros nove países, incluindo o Brasil, no início da pandemia, para que mercados operassem normalmente diante de quedas súbitas de atividade econômica.
Quando o euro estava lutando para estabelecer-se, bancos centrais dos Estados Unidos, Europa e Japão concordaram em intervir para viabilizar a nova moeda, que havia perdido quase um terço do valor original. Agora, intervenções são improváveis, a política do dólar mudou substancialmente desde os anos 1980 e 1990, quando várias intervenções foram realizadas. Bancos centrais hoje reconhecem que o principal fator de flutuações no valor das moedas são forças econômicas substanciais, o que põe dúvida a recuperação precoce do real diante da conjetura econômica atual, crescente clima de insegurança eleitoral e distorções causadas por emendas constitucionais normalizando o uso de truques fiscais, como instrumento de financiamento de benesses sociais de cunho eleitoreiro.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores