Notícia da morte da cantora. Mídia global prestando tributo ao seu talento, apesar da sua vida errática, tão errática quanto a sua genialidade. Voz acerbamente lasciva, lima grossa burilando camurça. Soul encontrando rap e se perdendo na melancolia do blues. Rendez-vous de todas as dores e queixas. Cotejo midiático, tocando incessantemente a canção Rehab, réquiem bizarro de uma vida esperando a morte acontecer. Recusando aceitar tratamento para a sua dependência química e alcoolismo em um centro de reabilitação…
[…] Tentaram me mandar pra reabilitação.
Eu disse “não, não, não […]¨
Amy Winehouse nos deixou aos 27 anos. Causa ainda desconhecida. Abuso de drogas e álcool, prováveis coadjuvantes na tragédia da sua vida. Era só uma questão de tempo, declarou sua mãe ao jornal Sunday Mirror, após inteirar-se da sua morte. Depressão, mudanças violentas de ânimo e frustradas tentativas de desintoxicar-se. Arautos da miséria e do inferno particular escondido na névoa escura da sua notoriedade. Todos nós sabíamos, poucos esperavam tão súbito dénouement.
A humanidade põe pessoas celebres em patamares mais altos do que a própria morte. Mundo acostumado aos transtornos e retornos de atletas, artistas, cantores, músicos e políticos. Transitando pelas portas giratórias dos centros de reabilitação. Carreiras lucrativas, endossando produtos e mantendo a aura de sucesso cobiçada pelos magos do marketing. Robin Williams, Boy George, Keith Richards, Elton John, Ray Charles, Whitney Houston, Demi Moore, Britney Spears, Truman Capote, Liza Minnelli e muitos outros sobreviveram. Administraram suas vidas e carreiras, embora precariamente em certas junções do pessoal com o profissional. Por que outros, como Amy Winehouse, sucumbiram? Os cientistas ainda procuram uma resposta… Nos Estados Unidos, o uso ilícito de drogas é tão americano como torta de maçã, beisebol e patriotismo. Parte importante do ritual da adolescência. Estudo nacional realizado em 2008, 46% dos americanos experimentaram uma droga ilícita em algum ponto da sua vida. Somente 8% admitiram haver usando drogas nos últimos trinta dias, entretanto, mais de 51% havia consumido bebidas alcóolicas durante o mesmo período. Aparentemente, a maioria das pessoas que experimentam drogas, não se transforma em dependentes químicos. Por quê?
Estudos sugerem que pessoas com certos tipos de doenças psiquiátricas, como ansiedade, mudanças de estado de ânimo, transtornos de comportamento e personalidade, são mais propensas a tornarem-se dependentes químicos. Outros mostram que a maioria com abuso de drogas, também sofre de alguma forma de distúrbio mental. Qual problema precede ao outro, o grande enigma.
Desordens mentais não somente aumentam a possibilidade de abuso intermitente das drogas, como também o risco de dependência química e os efeitos nocivos dos males associados à adição. Usuários de drogas, como meninos de rua, experimentam prazer intenso e efêmero sob a influência do crack e de carburantes. Automedicação para acalmar os demônios que torturam as suas mentes e incubam a miséria e o desespero nas suas vidas. Bebendo o mesmo vinho da casa de Amy Winehouse?