O Va’ Pensiero das mulheres

Crimes violentos perpetrados contra mulheres, figuram entre as ocorrências comuns nos anais da história, desde o hediondo assassinato de uma mulher negra chamada Teresa na capital da Parahyba do Norte em 1801. Um franciscano chamado José Maria Lopes e dois comparsas, possuído de ciúme obsessivo, o assassino convidou sua amante Teresa para se banharem na Bica dos Milagres. Surpreendendo a vitima e empalando sua genitália com um pedaço de madeira, os assassinos deixaram-na sangrando até a morte. Julgados pelo crime, o frade cumpriu sua pena em um convento da Ordem na Bahia, os cúmplices foram emprisionados perpetuamente.

Quase dois séculos depois, outro ato de violência contra uma mulher causou enorme revolta na sociedade paraibana. A vítima chamava-se Violeta Formiga, jovem mulher graduada em filosofia, jornalista e poetisa por vocação, seus versos admirados pela claridade, a sensibilidade e ajoie de vivre,expressada na sua paixão pelo voo livre dos pássaros. Assassinada pelo ex-marido, sua morte transformou-se no divisor de águas do movimento feminista e campanhas de combate a violência doméstica.

Naquela ocasião, o folclorista Tenente Lucena conclamoutodas as mulheres à usar na lapela uma violeta, viva ou artificial, como um símbolo da luta contra aqueles que pretendem mata-las impunemente.Chamado que figurou entre aqueles que galvanizaram a opinião pública contra o feminicidio, conscientizando organizações culturais a unir-se a luta a pela proteção e justiça para mulheres vítimas do crime.

Evidencia da brutalidade difusa contra a mulher na Paraiba revela que ocupamos um lugar proeminente nas ocorrências de feminicidio, 12ocolocação no País. Os assassinos de Teresa foram julgados e condenados por demanda popular em 1801, nos dias de hoje a impunidade ainda impera apesar dos rigores da lei. Como diria Violeta Formiga, é preciso que os pássaros voem livremente à procura das flores da liberdade, sem temor das armadilhas da violência e do medo. Vá Piensero!

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores