Se o século XX foi o século do poder, podemos dizer que o século XXI é o século do conhecimento. As pessoas frequentemente falam sobre dados como o novo petróleo, o novo ouro. Toda a questão sobre a tecnologia e o tipo de poder sobre-humano que ela proporciona, e como isso se cruza com a liberdade e a capacidade dos seres humanos de agir, tomar decisões e exercer controle sobre suas próprias vidas, parece extremamente interessante.
Na verdade, isso é algo sobre o qual os teólogos têm pensado há muito tempo. Séculos, provavelmente remontando a Boécio no século VI, para pensar sobre, por exemplo, se há alguém que sabe tudo sobre você, o que isso faz com a liberdade humana. A questão de como a presciência divina poderia coexistir com o livre-arbítrio humano tem sido debatida por teólogos e filósofos ao longo dos séculos.
Hoje, em uma era tecnológica, essas questões ganham nova relevância. Se os dados são o novo ouro, quem controla esses dados detém um poder imenso. Esse poder pode influenciar decisões pessoais, políticas e econômicas, levantando questões sobre privacidade, autonomia e controle. Estamos realmente no controle da tecnologia, ou a tecnologia está nos controlando? Essa pergunta é central para entender nosso papel em um mundo cada vez mais dominado por dados e algoritmos.
A tecnologia tem o potencial de ampliar nossa capacidade de agir e tomar decisões informadas. No entanto, também apresenta o risco de limitar nossa agência humana, ou seja, a nossa autonomia, liberdade individual e responsabilidade. A agência humana é a ideia de que os seres humanos têm o poder e a capacidade de agir de maneira independente e de fazer escolhas conscientes que afetam suas vidas e o mundo ao seu redor.
A reflexão teológica sobre o livre-arbítrio e a presciência divina pode oferecer insights valiosos para lidar com essas novas questões. A sabedoria acumulada ao longo dos séculos pode nos ajudar a navegar pelos desafios éticos e filosóficos que a tecnologia moderna apresenta.
Portanto, enquanto avançamos no século XXI, é crucial que continuemos a explorar essas interseções entre tecnologia, poder e liberdade humana. Precisamos garantir que a tecnologia sirva para aumentar, e não diminuir, nossa capacidade de agir e tomar decisões que moldem nossas vidas de forma significativa e ética.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores