O que é bom para a Odebrecht ….

Festival de ternos escuros, guayaberas cubanas e uniformes militares contrastando as vestimentas informais dos hóspedes comuns do hotel. O saguão do Hotel Presidente de Luanda perdera sua aparência sonolenta, os achaques da falta de manutenção e a atitude blasé dos seus funcionários. O vai-e-vem de Mercedes Benz negras e o aparato de segurança sugeriam a presença de um hóspede especial: Presidente Sarney estaria visitado o país nas próximas quarenta horas, acompanhado de uma modesta comitiva oficial, complementada por uma caravana de proprietários e executivos sêniores de empresas brasileiras. Entre eles, o empresário Norberto Odebrecht, identificado pelo presidente como “convidado especial”. Estávamos no primórdio de um almejado período de paz e reconstrução nacional, janeiro de 1989.

Um membro da delegação brasileira resumiu os acordos que seriam firmados durante a visita, com uma nota de rodapé: presença do presidente estava diretamente ligada a problemas afetando a execução do projeto da hidroelétrica de Capanda, iniciado em 1984 com o aval da ditadura militar brasileira. Estranhos companheiros de cama, considerando a orientação marxista-leninista do governo angolano. Política continuada com poucas modificações durante o governo Sarney e ampliada nos governos do PT, capitalizando investimentos e obras de empresas brasileiras no território angolano, maioritariamente nos projetos da Petrobras e a Odebrecht, financiados pelo BNDES.

A influência difusa e preponderante da Odebrecht na economia da Angola e na sustentação do governo do Presidente José Eduardo dos Santos, há mais de três décadas no poder, é evidenciado pelo volume de investimentos do BNDES, apoio a nomenclatura partidária e cumplicidade entre seus proprietários e a elite política do país. Modelo que nos remente a postura imperialista norte-americana e empresas do grupo Rockefeller na América Latina nos anos 50. Igualmente, parecemos seguir o mesmo tipo de abordagem, ou seja: o que é bom para a Odebrecht é bom para o Brasil…

Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores