O preço da liberdade

O preço da liberdade

A próxima eleição presidencial parece mais próxima do que deveria ser, em novembro de 2021. Marqueteiros já estão ocupados, produzindo pronunciamentos bombásticos, extrapolando as conquistas de um presidente sofrendo da síndrome de Estocolmo político. Prisioneiro nas garras do fisiologista Centrão, apoiada por influenciadores e comentaristas das mídias sociais, caiando frequentes faux pas e inverdades do primeiro mandatário em fóruns  internacionais, propaganda verde-amarelo e blogueiros de viés extremista.

Hipérbole, truísmos e deslizes da verdade, financiadas com recursos do Erário, invadindo nossos lares, alongando a ansiedade e incerteza causada pela vergonhosa politização das medidas sanitárias e imunização anti-Covid19. Iludidos pelo jogo de espelhos e fumaça dos magos da comunicação social e a servidão de ministros apegados aos seus  cargos, motivados por vaidade pessoal e carentes de planos, ideias ou mérito, repetindo soluções populistas para todo e qualquer problema, mesmo ao custo do desequilíbrio das contas públicas.

Democracia é um sistema frágil, as vezes ineficaz, mas é o melhor que temos. Atravessamos o século XX relativamente imunes às vertentes totalitárias do fascismo, nazismo e estalinismo. Convivemos com a guerra fria, sem nos engajarmos nos grandes conflitos bélicos do mundo bipolar. Éramos nós, nossos inimigos. Desigualdades entre classes, raças e regiões nos levaram a um desequilíbrio interno com consequências drásticas para a nossa nascente democracia, vivemos vinte e um anos pisoteados pela intolerância de uma ditadura militar. Esquecemos da destruição das nossas instituições democráticas e cerceamento dos nossos direitos por governantes castrenses. Elegemos políticos apologistas dos excessos e medidas de exceção dos militares, como antídoto aos problemas socioeconômicos do País

Temos uma democracia cada dia mais ameaçada pela combustão explosiva do cinismo e patrimonialismo herdados de políticos tradicionais, militarização de instituições civis, ingerência política nos órgãos de segurança pública, proliferação de movimentos populistas e extremismo alimentado por “fake-news” ou teorias de conspiração. A alarmante terceirização da segurança publica através da disponibilização de armas de calibre letal, sem controle efetivo do Estado, militarização de mecanismos de coerção estatal e falta de um diálogo genuíno entre o povo e a elite política, não auguram nada de bom para um futuro de convivência pacífica e do progresso democrático.

A democracia cresce e prospera quando seus elementos constitutivos: a sociedade civil, a liberdade e o progresso se interlaçam em mosaicos mutuamente sustentáveis, sem exclusivismo, domínio de um sobre o outro, ou abdicação de princípios básicos e vocação republicana, embutida na separação dos três poderes. Desequilíbrios e limitações podem transformá-los em ameaças sérias à democracia e a felicidade geral do povo da nossa grande nação. Thomas Jefferson nos alertou, “ o preço da liberdade é a vigilância eterna”.

Palmari H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Marceleuze disse:

    Excelente. Sumarizando a caótica e desacreditada situação de equilíbrio institucional, aborda a performance bajulatória e desassistida de brio, da maioria dos políticos atuais, eleitos por conta da miséria econômica e intelectual, que a pobreza gera.

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