Em uma era onde parecia que a modéstia estava começando a prevalecer, nos deparamos novamente com uma onda crescente de exibicionismo e ostentação que se espalha pelas mídias sociais. Este fenômeno não se limita apenas a imagens de pessoas em resorts luxuosos ou vestindo grifes caras; estende-se também a poses em frente a carros de luxo e lojas de marcas famosas. Essas postagens não só redefinem o mise-en-scène do turismo de ostentação, mas também revelam uma preocupante superficialidade na forma como a cultura e o sucesso são representados.
A grande maioria desses “turistas” e “consumidores” demonstra ter pouco ou nenhum conhecimento sobre os locais, obras de arte ou mesmo sobre os produtos que exibem. A superficialidade é patente quando um casal, ao fotografar a filha em frente ao majestoso Opera Garnier, não reconhece o nome do edifício; ou quando alguém se encanta com “a ópera”, referindo-se ao musical da Broadway “O Fantasma da Ópera”, sem apreciar a verdadeira essência de uma casa de ópera histórica.
Em destinos como Dubai, essa desconexão se manifesta quando pessoas posam em trajes tradicionais opressivos ou em shoppings extravagantes, não como forma de genuína apreciação cultural, mas como um meio de projetar uma imagem de sucesso e riqueza. Tal comportamento sugere que o valor pessoal e o status social são medidos por associações materiais, e não por qualidades intrínsecas ou realizações pessoais.
Essa cultura de comparação nas mídias sociais incentiva uma vida de aparências, pressionando as pessoas a exibir um sucesso muitas vezes inatingível, o que pode levar a sentimentos de inadequação e uma incessante busca por aprovação social. De fato, é crucial refletir sobre as motivações dessas postagens e o impacto que elas têm sobre a percepção de valores na sociedade.
Propõe-se, então, uma mudança no foco das nossas partilhas digitais: que tal valorizarmos momentos genuínos de felicidade, conquistas pessoais e experiências que refletem verdadeiramente quem somos? Essa abordagem não só preservaria a dignidade dos locais visitados, como também promoveria uma cultura digital mais autêntica e menos competitiva.
Este novo exibicionismo nas mídias sociais não apenas dilui a experiência de viagem e consumo, mas também reflete uma crise mais ampla de valores. É hora de repensar nossas intenções e a maneira como compartilhamos nossas experiências, buscando promover o conhecimento, o respeito e a genuína apreciação cultural.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores