Posso ajudar? Pergunta nas camisetas verdes dos coveiros não fazia muito sentido às pessoas ao redor do espaço reservado, como a última morada do novo habitante das entranhas de terra. Movendo-se com destreza, precisão e zelo profissional, vários homens trabalhando em silêncio, sem um gesto de simpatia ou mesmo curiosidade com o círculo de pessoas acompanhado a inumação do ataúde.
Túmulo de uma mulher inocente, martirizada pela intolerância covarde de um ato de revanchismo masculino. Flores, abraços, preces, soluços, parte de um ritual de despedida era tudo que restara. Tufos de grama colocados cuidadosamente sobre a sepultura, tarefa encerrada com uma lapide quebrando o anonimato. A mulher, mãe, rainha de sua pequena prole, não era mais. Ficariam as lembranças de sua passagem pela vida e prematura viagem rumo a eternidade.
Grupo de pessoas formando um círculo cantando uma canção que terminava com a estrofe “flores plásticas não morrem”, ouvimos atentos sem entendermos o significado da mensagem ou a escolha de algo artificial como algo transcendendo a vida. As flores naturais morreriam, as lagrimas secariam e as orações se perderiam pelo campo santo. As lapides não morreriam…,
A mulher nem era anônima, nem próxima. A tragédia que nos levou a beira da sepultura era parte do cotidiano do tempo em que vivemos. Tragédia que escapara dos noticiários para o conforto da casa de amigos, transformando uma pessoa humana, em mais uma estatística nos anais do crime. Vítima da banalidade do ódio, da covardia contra aqueles que clamam pela igualdade e anseios pela liberdade. Chamava-se Daniela, assassinada no Brasil, o quinto país que mata mais mulheres no mundo.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores