Como um raio iluminando uma paisagem sombria, as invasões gêmeas de Israel e Ucrânia trouxeram um reconhecimento súbito: o que parecia ser, até agora, desafios díspares e desorganizados aos Estados Unidos e seus aliados é, na verdade, algo mais amplo, mais integrado, mais agressivo e mais perigoso.
Nos últimos anos, o mundo se dividiu em dois blocos concorrentes. De um lado, a Aliança Liberal, composta por países ocidentais e democráticos, incluindo a OTAN e aliados dos EUA na Ásia e Oceania, com a cooperação de alguns países não liberais, como Arábia Saudita e Vietnã. Do outro lado, o Eixo de Resistência, liderado pela Rússia e Irã, que inclui estados antiamericanos como Coreia do Norte, milícias como o Hezbollah, organizações terroristas como o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina, e paramilitares como o Grupo Wagner.
O Eixo de Resistência desenvolveu-se como um ator em rede, com seus membros operando de forma semi-independente, mas interdependente. Eles trocam recursos, dividem tarefas e se adaptam conforme necessário. Exemplos incluem sanções burladas e apoio militar mútuo. Propaganda e desinformação são armas-chave, com Rússia, Irã e China unindo-se nessa frente.
Na Ucrânia e em Israel, esses países atuam como representantes de alianças maiores. Sem apoio externo, ambos são vulneráveis. A Rússia rompeu laços com Israel, fortalecendo-se com o Irã, que fornece armamentos. A Coreia do Norte apoia a Rússia e recentemente firmou um pacto de segurança. A China, enquanto mantém alguma distância militar do conflito na Ucrânia, declarou “parceria ilimitada” com a Rússia, ajudando a vencer sanções econômicas e fornecendo suporte industrial e tecnológico para o esforço de guerra russo.
Os líderes do Eixo não escondem seus objetivos. Segundo Alexander Dugin, ideólogo russo, a guerra na Ucrânia visa derrubar o mundo unipolar. Hossein Salami, do Irã, vê os inimigos do regime islâmico como adversários de toda a humanidade, prevendo uma vitória iminente contra os EUA.
A ascensão da China como um desafiador iliberal com ambições hegemônicas desencadeou novos esforços das democracias liberais para trabalharem juntas. Como fez em décadas anteriores, os Estados Unidos convocaram uma coalizão de estados com ideias semelhantes e parceiros associados para criar alianças que fortaleçam os fundamentos da ordem internacional liberal. Afinal, o desafio da China não é apenas direcionado à posição global dos Estados Unidos. É um desafio ao mundo mais amplo das democracias liberais e seu domínio militar, econômico e ideológico de longa data no sistema global.
Durante a era Obama, subestimou-se a Rússia e o Irã. Hoje, o Eixo avança, desafiando o liberalismo ocidental. Estratégias de assédio e exaustão podem funcionar. A Aliança Liberal precisa de uma rede coordenada para conter e deter provocações. O futuro exige uma resposta robusta. A divisão do mundo em blocos exige uma nova abordagem de cooperação e resistência frente aos desafios globais emergentes.
Palmarí H. de Lucena, 02 de julho de 2024