O mito da brancura

O mito da brancura

Cenas de violência policial e incidentes de discriminação racial haviam sido tratados rotineiramente, devido a normalização de atitudes racistas enquanto na Presidência de Donald Trump, postura replicada obsequiosamente por governantes estrangeiros, alinhados com o viés preconceituoso das políticas do mandatário americano. Testemunhamos protestos da população negra contra racismo, nas últimas décadas. De repente algo mudou, manifestações transformaram-se em verdadeiros mosaicos de raças e etnias proclamando apoio ao movimento “Vidas Negras Importam”. Demandando mudanças culturais na história da supremacia branca na América e da crueldade do pedágio cobrado de afro americanos, em forma de atrocidades e discriminação racial. 

Americanos têm dificuldade em entender que o conceito de raça é uma ideologia, não um fator biológico. Por esta razão, segundo Nell Irvin Painter, autor do livro “The History of White People”, identificar-se como branco na América, seria tão lógico como confundir feitiçaria com ciência empírica. Persistem desacordos sobre a ideia de uma grande “raça branca”, desde a invenção do conceito de raças humanas no século XVIII.

Europeus classificavam eles próprios e os demais até então, de acordo com o clã, tribo, reino, lugar de origem e religião e uma infinidade de outras características consideradas relevantes como hábitos culturais, geografia, riqueza e até o clima. Tudo menos raça.

Durante o Iluminismo, estudiosos classificaram a humanidade em raças, grupos distintos definidas de acordo com características físicas, como a cor dos olhos e da pele, altura e dimensão do crânio. A mais duradoura foi a do Professor Johann F. Blumenbach da Universidade de Gottingen, baseada em medidas do crânio e divisão da humanidade em cinco “variedades”, de acordo com as preferências estéticas do acadêmico. Nas duas extremidades, classificou crânios que ele considerava “feios”, notadamente os africanos e o asiáticos. Escolheu o “crânio mais bonito”,  o de uma escrava sexual do Cáucaso do Sul, como a base do nome dado a “pessoas brancas” ou “Caucasianos”, em referência ao lugar de origem da dona do crânio.

Estamos em um momento onde raça, negro e branco, coexiste com etnicidade,  hispano, não hispano, seguramente outras variações vão aparecer. Observamos mudanças importantes sobre brancura, algo que só era de grande valor quando protegida por leis e costumes, leis que não estão mais em vigor e costumes que estão desaparecendo devido ao aumento de casamentos inter-raciais e maior interação entre jovens de origens diferentes. Brancura não está totalmente morta, não é a mesma de gerações passadas, desafiando esforços de “supremacistas brancos” em mantê-la viva e dominante.  

Palmarí H. de Lucena, União Brasileira de Escritores

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