As comunidades “stan” brasileiras, responsáveis por animar o fandom moderno e alimentar a cultura digital no X, encontram-se subitamente em silêncio. O termo “stan”, que combina as palavras “stalker” (perseguidor) e “fan” (fã), descreve seguidores cuja devoção a seus ídolos muitas vezes beira a obsessão. No Brasil, o X era mais do que uma simples rede social; era o palco de promoção e celebração de artistas, fomentando tendências culturais que ecoavam pelo mundo. A icônica frase “Venha para o Brasil!” ressoava frequentemente na plataforma, refletindo o entusiasmo e a influência dos milhões de usuários brasileiros.
No entanto, a suspensão do X no Brasil, resultado de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) diante do descumprimento de ordens judiciais relacionadas à desinformação política e ao discurso de ódio, gerou um impacto profundo nessas comunidades. Sob a liderança de Alexandre de Moraes, a medida foi vista como necessária para garantir o cumprimento da lei. Apesar de ter sido uma resposta contundente, suas consequências imprevistas abalaram profundamente o ambiente cultural digital do país.
Elon Musk, proprietário do X, recusou-se a seguir as ordens judiciais, o que apenas intensificou o confronto. A criação de uma campanha nas redes para questionar a decisão do tribunal não contribuiu para resolver a situação; ao contrário, revelou uma interpretação equivocada das leis brasileiras por parte de Musk, agravando o impasse. O resultado imediato foi o desaparecimento de milhões de contas ativas, o que deixou um vazio significativo no cenário online.
Os fãs brasileiros, conhecidos por sua dedicação incansável, foram profundamente afetados. Contas como a de “Ariana Grande Brasil”, com mais de 286 mil seguidores, perderam seu espaço de expressão e atuação. Essas comunidades, além de promoverem seus artistas favoritos, foram responsáveis por criar uma linguagem própria que moldou a cultura digital do fandom no país.
A ausência do público brasileiro no X representa uma perda crítica para o ecossistema global das comunidades “stan”. O engajamento, especialmente em eventos de lançamentos e campanhas promocionais de grandes artistas pop, sofreu um duro golpe. Um exemplo notável dessa capacidade de mobilização dos fãs foi a recepção de Taylor Swift no Brasil durante sua turnê “Eras”, quando os fãs brasileiros projetaram a frase “You Belong With Me” no Cristo Redentor, um gesto simbólico que rapidamente ganhou notoriedade.
Em meio ao banimento, muitos fãs têm recorrido a alternativas como o uso de VPNs ou a migração para plataformas emergentes, como o Bluesky, que registrou um aumento considerável de novos usuários brasileiros. Contudo, o sentimento predominante é de perda. A cultura e as dinâmicas das comunidades “stan”, que floresceram no X, encontram-se fragilizadas, e a transição para novos ambientes digitais tem se mostrado um desafio considerável.
O futuro dessas comunidades ainda é incerto. Embora muitos acreditem que a proibição será temporária, ainda não está claro se Elon Musk cederá às exigências legais brasileiras. Até que isso aconteça, o mundo do fandom global permanece em compasso de espera, aguardando os próximos desdobramentos tanto no Brasil quanto no cenário internacional.
Palmarí H. de Lucena