A decisão do Google de varrer do seu Calendário digital referências ao Mês da História Negra, ao Mês da História das Mulheres e às celebrações LGBTQ+ não é apenas um retrocesso, mas um verdadeiro tapa na cara da diversidade e da inclusão. A gigante da tecnologia, com sua costumeira arrogância corporativa, alegou que manter esses eventos “não era sustentável”. Sustentável para quem? Para um modelo que se beneficia da inovação e da criatividade dessas mesmas comunidades enquanto as apaga da memória digital?
Esta exclusão não é um acidente e tampouco um caso isolado. O Google se alinha descaradamente ao movimento reacionário que, sob a sombra do segundo mandato de Donald Trump, se empenha em desmantelar qualquer avanço social construído a duras penas. A ordem executiva que sufoca políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas agências federais agora se espalha como uma praga para o setor privado, empurrando corporações a abandonarem compromissos mínimos com a justiça social.
Como se não bastasse, a remoção dessas datas do calendário impõe aos usuários mais um fardo indignante: quem quiser preservar a memória dessas lutas terá que inserir manualmente cada evento. Parece um detalhe técnico irrelevante? Não se engane. A presença oficial dessas datas no calendário confere reconhecimento, validação e visibilidade. Já a sua remoção reforça a ideia de que essas histórias são descartáveis, insignificantes, meros fragmentos de um passado que alguns gostariam de apagar.
E isso levanta uma questão inquietante: se o Google pode excluir essas datas com um simples ajuste de código, o que mais pode ser apagado? Quais outras histórias serão enterradas sob a conveniência dos poderosos? A lógica da exclusão abre um precedente perigosíssimo para a manipulação da informação e do significado da memória coletiva.
A resposta não pode ser o silêncio. A indignação nas redes sociais e a pressão sobre o Google são passos essenciais para reverter essa decisão vergonhosa. Mas não basta. Outras plataformas tecnológicas, instituições acadêmicas e organizações sociais precisam assumir o papel que o Google covardemente abandona, assegurando que momentos históricos e sociais continuem a ser reconhecidos e celebrados.
O apagamento cultural, seja ele digital ou físico, é uma forma repulsiva de censura e dominação. Cada mês da história negra, cada celebração do orgulho LGBTQ+, cada marco das lutas femininas são testemunhos de resistência e triunfo contra forças que sempre tentaram silenciá-los. Permitir que sejam varridos para debaixo do tapete é compactuar com a reescrita do passado segundo a conveniência dos opressores. E isso, definitivamente, não pode ser tolerado.
Palmarí H. de Lucena