O Brasil atravessa 2025 com uma estatística vergonhosa que já deveria ter sido erradicada há décadas: 29% da população entre 15 e 64 anos é analfabeta funcional. Isso significa que quase um terço dos brasileiros consegue ler palavras ou frases simples, mas não compreende instruções básicas, não interpreta textos, não domina a linguagem matemática elementar. Em outras palavras: estão formalmente alfabetizados, mas intelectualmente abandonados.
É a prova de que o sistema educacional brasileiro falhou — e segue falhando — de forma estrutural. Governos se sucedem, discursos se renovam, promessas são feitas com entusiasmo diante das câmeras. Mas a realidade dentro das salas de aula é de precariedade, desvalorização do magistério e ausência de políticas públicas contínuas. A educação não é prioridade; é remendo.
A pandemia apenas aprofundou o abismo: escolas públicas ficaram meses fechadas sem qualquer apoio tecnológico, professores não foram capacitados para o ensino remoto e milhões de alunos foram simplesmente esquecidos. O impacto desse abandono já é visível e será sentido por décadas.
O analfabetismo funcional, ao contrário do que muitos pensam, não é um problema individual, mas um projeto coletivo fracassado. E seu custo não é apenas pedagógico — é econômico, social e democrático. Um país onde grande parte da população não compreende o que lê está condenado à estagnação e à manipulação. Sem leitura crítica, não há cidadania plena.
O Estado brasileiro tem o dever constitucional de garantir uma educação de qualidade. Não se trata de caridade, mas de justiça. Enquanto a formação do povo for negligenciada, seguiremos produzindo gerações inteiras de brasileiros impedidos de participar do debate público, de entender seus direitos, de romper o ciclo da pobreza.
É preciso transformar a alfabetização em prioridade nacional real, com metas claras, financiamento adequado e valorização efetiva de professores e gestores. Não há projeto de país possível onde a maioria lê sem entender.
Ao negligenciar a educação, o Brasil compromete seu próprio futuro. E, mais grave, naturaliza uma tragédia silenciosa que deveria envergonhar cada governante, cada legislador, cada cidadão que ainda acredita na democracia.
Palmarí H. de Lucena