Festas de lançamento nos remetendo àqueles tempos nos quais eventos, novos edifícios, restaurantes e boutiques eram infrequentes e parcamente anunciados; um privilégio do distante primeiro mundo.
Voltamos todos os anos, sem esperar que a saudade se afastasse. Novidades eram poucas, mas sempre expressadas como as únicas novidades. Chegamos uma vez e as canções de Roberto Carlos traziam o bálsamo confortante do romance para a gente simples em cadeiras nas calçadas, servidas sem a sonolência e os arabescos poéticos da bossa nova. Música popular, pão de cada dia, sem ser populista. Livre do exuberante verde-amarelíssimo dos sambas de exaltação. Perdido na crença e nos tempos condescendente da lusofonia, o Brasil berço dourado do índio civilizado e abençoado por Deus, já não existia. Detalhes tão pequenos para muitos, mas sempre de nós dois. O amor do novo rei mais próximo, mais palpável.
Disco voador pousado nas areias da praia, outra novidade. Magistral, elegante, efêmero. Violando o mar, hotel de ferro e concreto. Poder público liderando a batalha dos humanos contra a natureza. Brasília no Atlântico. Girando em torno do círculo, uma cidade esvanecida pelo novo cartão postal. Enquanto o mar, ora verde cristalino, ora azul turquesa, banhava placidamente as barbatanas do leviatã.
Condicionamento aeróbico entrara na mitologia da cidade. Cooper, o nome do novo deus. Calçadas e ruas marcadas com números e metas a alcançar. Exercício físico e genuíno interesse pelo bem estar coexistiam inconfortavelmente com o narcisismo e hedonismo emergindo na nossa nova sociedade.
Restaurante novo, culinária francesa. Dizendo-se conhecedor profundo da capilaridade urbana, o taxista partiu. Paramos subitamente diante de um casebre. Toc, toc, toc. Conversa sussurrada com uma mulher. O terreiro de candomblé havia mudado. Explicamos que queríamos o restaurante Cordon Bleu. Questionou então porque havíamos usado uma expressão estrangeira, em vez de pedirmos o restaurante novo na Rua Duque de Caxias, a grande novidade do momento. Cordon Bleu ou candomblé significavam a mesma coisa para ele. Os detalhes eram tão pequenos…
Palmarí de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores