Negligência benéfica é uma expressão americana sugerindo a desaprovação da atitude inerte de uma pessoa ou um ente público, que esteja fazendo nada para resolver um problema, na esperança de que o problema seja resolvido por ele mesmo. Danos causados pelas chuvas fortes que abalaram nossa cidade, expuseram a falta de medidas preventivas e políticas públicas para lidar com o impacto do fenômeno e a degradação ambiental, causada pela urbanização predatória do Altiplano do Cabo Branco, ocupação ilegal de espaços públicos, de áreas ribeirinhas e imóveis abandonados.
Deslizamentos põem em dúvida a sustentabilidade de empreendimentos de grande porte, permitidos pela mudança do Código Municipal de Meio Ambiente em 2005, que alterou o zoneamento da área de zona especial de preservação para zona turística. Modificações permitiram construções mais próximas das margens de rios e córregos, talvez para evitar os riscos políticos inerentes a remoção de ocupações ilegais de áreas ribeirinhas. Em suma, temos diante de nós uma crise de degradação e lumpenização de áreas ribeirinhas e, ao mesmo tempo a gentrificação de áreas abertas para especulação imobiliária, um modelo questionável de desenvolvimento.
A falésia do Cabo Branco é composta por solo argiloso e precisa de permeabilidade para se sustentar, sendo as raízes das árvores as responsáveis pela drenagem no solo. Com a impermeabilização da área, logo começaram a acontecer os primeiros deslizamentos e voçorocas. Sua estabilidade continua em perigo de desabamento, enquanto os órgãos responsáveis não fizerem a manutenção e limpeza da drenagem no topo da barreira, a canaleta de proteção está completamente obstruída pela vegetação e resíduos sólidos que comprometem o escoamento de águas pluviais. Os deslizamentos poderiam haver sido evitados, se a atitude fosse diferente da postura atual de “se não estiver quebrado, não tente conserta-lo”. A sociedade demanda resultados!
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores