Pouco antes de perder a eleição presidencial, Donald Trump lançou a quixotesca Comissão 1776, caracterizando-a como um veículo de promoção de “educação patriótica”, autonomeando-se defensor de “séculos de tradição”, que culminara na Constituição Americana. Afirmando que esta tradição estava sob assalto por uma esquerda radical abrangente, em salas de direção de empresas, através de turbas destruidoras de estátuas protestando nas ruas das cidades e educadores pérfidos que “tentam fazer estudantes envergonharem-se da história do País.” Narrativa Trumpista incorporada na campanha política do Partido Republicano, com vários candidatos direitistas prometendo “purgar” das escolas qualquer atentado “divisionista” de examinar o legado de injustiça racial ou supremacia branca na America.
História atormenta a alta-estima da França, em um ano eleitoral volátil. Alimenta a retórica de demagogos na Polônia, Turquia e Brasil, de homens fortes na Rússia e China. Abana as chamas da intolerância religiosa na Índia, a maior democracia do mundo, aprofundam diferenças políticas na democracia americana com republicanos atacando visceralmente o conceito de que racismo, não é meramente uma questão de viés ou preconceito pessoal, mas algo imbuído em sistemas legais e políticas públicas.
Direitistas nos Estados Unidos e em outros países do mundo, afirmam que o enfoque nos vergonhosos e inconfortáveis legados históricos de um país é uma mostra de desiquilíbrio, provocado supostamente pela veemência do esquerdismo doutrinário, que corrompe a psique nacional. Narrativa que oferece um terreno fértil para o cultivo de queixas sobre perda de privilégios, quando mudanças políticas do século XX afrouxaram as velhas amarras de tradições de classe ou interesse econômico. Paixões tribais e o mito de sentido de pertencimento, transformaram-se em armas do direitismo em guerras culturais e agressões contra instituições democráticas, principalmente aquelas que asseguram eleições livres e justas, direitos humanos, tratamento isonômico, saúde básica e educação universal.
No Brasil, normalização de preconceitos étnico-raciais, misoginia, suprematismo branco, intolerância da diversidade de gênero e xenofobia estão atrás do renascimento de atitudes e posturas antidemocráticas que prosperam no País, desde os tempos de movimentos integralistas e dos últimos suspiros do fascismo europeu. Iliberalismo está em marcha de novo, com demandas de varrer a ordem vigente, fazer a nação “grande de novo”, parodiando jargões do Nazismo e.g. Deutschland über alles – A Alemanha acima de tudo – para fabricar narrativas populistas e reescrever sua história.
Paradoxalmente, desencanto político alimenta fielmente o autoritarismo de líderes eleitos democraticamente, que usam o poder afiançado pelo voto livre para danificar, enfraquecer ou mesmo destruir as instituições do estado democrático de direito, os mesmos que garantiram sua ascensão ao poder. Em uma democracia: o voto que elege, é o mesmo que derrota, as duas opções pertencem ao povo soberano, não aos políticos…
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores