Estamos comemorando nosso octogésimo aniversário na Costa Rica, trinta e três anos depois de partirmos de San José para uma nova missão no Zimbabué. Isolamento e o ócio da pandemia nos provocaram um imenso sentimento de nostalgia, lembranças de um lugar sem grandes complexidades, desafios incontroláveis ou a praga do extremismo politico sinônimo do atraso e violência, mantendo os povos da America Latina no atoleiro da pobreza abjeta, reféns da argumentação circular de lideres messiânicos e suas turbas antidemocráticas.
Foram quatro anos de aprendizado intenso sobre como uma democracia pode e deve funcionar, o poder da participação popular e respeito do Estado aos direitos do cidadão. Esperançosos observamos de longe o fim de uma ditadura militar, estigmatizada pela falta de liberdade, uso de tortura contra os opositores políticos e prática de terrorismo de Estado. Sonhávamos com um Brasil democrático, transformado em uma imensa Costa Rica.
Por que deveríamos inspirar-se na pequena Costa Rica, com uma área do tamanho do Rio Grande do Norte, o que pode ter em comum com o gigantesco Brasil? Temos muitas semelhanças históricas, além da paixão pelo futebol. Colonizados por europeus, ambos se tornaram independentes no início do século XIX: a Costa Rica em 1821 e o Brasil em 1822, que passaram anos vivendo da exportação do café, do açúcar e da exploração do trabalho escravo, abolido 50 anos antes da Lei Aurea e o voto direto, que existe desde 1913. Aqui essa conquista custou um pouco mais caro e veio muito mais tarde.
O presidente da junta revolucionária vitoriosa após uma sangrenta guerra civil aboliu o exercito em 1948, deixando as guardas nacional e a rural como as únicas forças uniformizadas. Revolucionários liderados pelo Presidente José Figueires haviam criado uma cultura de civismo e comportamento democrático, redirecionando recursos orçamentários de gastos militares para saúde e educação, com resultados impressionantes: 96% da população alfabetizada, 79 anos de expectativa de vida, líder da América Latina em liberdade de imprensa, terceiro país menos corrupto do continente e primeiro em índice de satisfação da população. Costa Rica é uma das 22 democracias mais antigas e consolidadas do mundo
As campanhas partidárias lembram torcidas organizadas pacíficas. Voluntários aglomerados em esquinas opostas distribuíam propaganda politica, acenam bandeiras, sempre cantando. Vestidos em verde e branco ou em vermelho e azul, uma Disneylândia democrática. Depois das eleições, o povo se retira às suas casas. Tudo volta ao normal. Resultados aceitos pelas partes, deixam os eleitos governar, sem animosidade pessoal entre os vencedores e os derrotados. O importante é preservar a democracia.
Milton Nascimento referiu-se a Costa Rica, como a terra do coração civil. Desejando o mesmo para o Brasil, “[…] sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?… Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar.” Caminhando pelas maravilhosas e bem preservadas florestas, desfrutando o espirito democrático e a civilidade do povo, nos leva a repetir o refrão que reitera o afeto que sentimos pela vocação democrática costarriquense. PURA VIDA!, estamos de volta.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores
boa estada em Costa Rica. quando o bolsonaro ganhou as eleições um amigo costarricense me ligou oferecendo asilo político… estou quase aceitando. a gente era feliz aí e não sabia. um abraco
Eh um Brasil organizado, com relevo e natureza semelhantes. Não deixem de fazer a experiência do “rafting “. Boa estada!
Não conheço Costa Rica. Esta crônica me despertou a vontade de respirar este ar de democracia alegre e colorida desta terra.
Saudade de um Brasil inteligente, musical e solidário.
Mas…um dia a gente retorna para o BRASIL!