Na sombra do neofascismo brasileiro

Na sombra do neofascismo brasileiro

Turba de fascistas italianos, perfilados diante da cripta de Benito Mussolini, vestidos em uniformes pretos ou misturados com verde-oliva, emblemático das milícias do movimento, gritando palavras de ordem, braços direitos levantados a 45o, estendidos em saudação romana da época do antigo império, copiada por grupos semelhantes de outros países, como o movimento integralista brasileiro, os franquistas, os nazistas alemãs e recentemente por manifestantes antidemocráticos nas estradas do Brasil.

Havia passado um século desde que Mussolini entrou em Roma, acompanhado de milhares de seguidores, emergindo eventualmente como o chefe de um novo governo, transformando a Itália em um estado totalitário fascista. Derrotado na Segunda Guerra Mundial por Tropas Aliadas, que incluíam combatentes da Força Expedicionária Brasileira, o ditador foi capturado e sumariamente executado por um pelotão de fuzilamento, formado por insurgentes antifascismo.

Diferente da Alemanha, onde monumentos nazistas foram destruídos e uma cultura de vergonha sobre os horrores do Holocausto persiste, na Itália existe uma visão mais divergente sobre seu passado fascista, por uma parcela considerável da população que ainda proclama nostalgia pelo fascismo, a exemplo da chegada ao poder de partidos pós-fascistas pela primeira vez, através de eleições democráticas.

No Brasil, apoiadores do presidente incumbente derrotado em eleições democráticas, se engajam abertamente em espetáculos fascistas diante de instalações militares, pedindo um golpe de estado, em violação ao Artigo 5o da Constituição Brasileira.  Enquanto nos Estados Unidos, a aparente normalização de teorias de conspiração antidemocráticas, como também ameaças de violência política, provocaram o Presidente Joe Biden a denunciar o “semi-fascismo”, contagiando uma porção significante de sociedade e da própria democracia americana.

Atitudes sobre fascismo são muitas vezes ambivalentes, refletindo o que o povo gostaria de acreditar em vez da realidade histórica, distorção que aparente corre paralelamente a tendência atual de deslize político ao direitismo.  Problemas da democracia representativa, instabilidade econômica acompanhada de cortes em programas sociais, servem para alimentar a memória de um ditador, cujo slogans e dos seus seguidores eram: “Mussolini tem sempre razão” ou “e daí?”, que chegou ao poder sem ser eleito ou disparar um tiro, com a cumplicidade de uma elite delirante sobre a possibilidade de aceitar o totalitarismo fascista como contraponto ao Bolchevismo.

História recente mostra que fascistas e partidos políticos direitistas chegaram ao poder através de eleições democráticas, mesmo depois de expressar sentimentos e intenções antidemocráticas. Triunfos eleitorais precedidos por campanhas contra instituições do estado democrático e questionamento da lisura do processo eleitoral.  O que se observa nas ruas e estradas do Brasil, após a derrota do incumbente, é a continuação de práticas pré-eleitorais de desinformação, notícias falsas, violações da laicidade do estado, deliberado aparelhamento de organismos de segurança, subvertidos como instrumentos de identificação e apoio ao neofascismo verde-amarelo antidemocrático.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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