Por que homens poderosos não aprendem? Até hoje, nenhuma lei ou regulamentação foi suficientemente ambiciosa ou eficaz para resolver ou ao menos, mitigar problemas causados por conduta inadequada de homens ricos, poderosos, incontroláveis. Episódios recentes em vários países envolvendo personalidades midiáticas, atletas milionários, profissionais liberais, políticos corruptos e até religiosos, mais do que justificam aumento de demandas por justiça célere e ativismo do movimento “#MeToo” ou do nosso #MeTooBrasil, na ampliação de pautas feministas além da persecução de perpetradores de assédio e injuria sexual, misoginia ou feminicídio.
Nos Estados Unidos, várias personalidades de mídia pagam caro por conduta inadequada com mulheres. O poderosa ídolo da extrema direita, Tucker Carlson, deixou a Fox News após acusações de uma ex-produtora de que o ambiente de trabalho do programa “Tucker Carlson Tonight” era hostil as mulheres; o apresentador Don Lemon foi demitido pela CNN, apenas algumas semanas após declarar que a pré-candidata republicana Nikki Haley estava fora de seu “auge” aos 51 anos; Jeff Shell, CEO da NBC Universal, foi demitido porque caracterizou um “relacionamento inadequado com uma mulher da empresa” e o que a mulher em questão, descreveu como assédio sexual, em uma reclamação apresentada à NBC antes da demissão de Shell.
Enquanto isso no Brasil, dois ex-membros da seleção brasileira Robinho, Dani Alves, e Bruno um ex-goleiro do Flamengo, Cuca o renomado técnico de futebol, tiveram suas carreiras interrompidas abruptamente após denúncias ou condenação por crimes sexuais no exterior. Sete jogadores famosos, continuaram suas carreiras no Brasil, apesar de relatos na imprensa sobre ataques contra mulheres ao serem denunciados ou detidos sob várias acusações de violência, de espancamentos a estupros. Acusaçoes de abuso sexual contra dois membros da Câmara de Deputados, protegidos por imunidade parlamentar, continuam pendentes no STF. Esta semana testemunhamos a extradição para o Brasil do empresárioThiago Brennand, acusado de crimes sexuais, após anos de impunidade.
Céticos argumentam que anos após o advento do movimento #MeToo e colapso de carreiras ilustres, incidentes continuam acontecendo, envolvendo culturas retrógadas e opressoras contra as mulheres. Seria uma reação ao movimento #MeToo ou indício da falha de mudanças radicais destas atitudes? A escritora Catharine A Mackinnon afirma que, “#MeToo é, e sempre foi, uma luta pelo poder; em muitos lugares ao longo desta indústria [mídia] e de muitas outras, ainda não foi vencida. Mas, episódios como estes – assustadores como são suas revelações – sugerem que progresso ainda está sendo feito.”
É possível optar por #MeToo como uma luta pelo poder, porque essa posição coloca ênfase apropriada em quem realmente controla culturas e ambientes de trabalho, do que optar por uma visão mais limitada que imagina os resultados do movimento como uma coleção de muitos conflitos diferentes, entre muitas pessoas diferentes. Cada uma dessas instâncias importa – as personalidades e experiências importam – mas os sistemas que permitem que pessoas poderosas vitimizem outros, funcionários, parceiras ou pessoas comuns, são muito mais cruciais para a toxicidade contínua do local de trabalho, do lar e da sociedade, do que qualquer indivíduo ou mesmo todos os indivíduos combinados.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores