Na era da pós-verdade!

Verdade e mentiras, parâmetros convencionais para caracterizar uma narrativa são hoje complementadas ou mesmo substituídas por posicionamentos que poderiam ser tão absurdos ou fantasmagóricos que dispensariam a necessidade de caracterizá-los como falsos ou levianos. Eufemismos são usados para tudo. Políticos são econômicos com a verdade, quando flagrados mentindo ou em situações embaraçosas acusam seus algozes ou a mídia de deturpar fatos ou pronunciamentos fora de contexto.

A distorção intencional da verdade, especialmente para fins políticos, é conhecida como a “Grande Mentira”, máxima erroneamente atribuída a Goebbels, o Ministro de Propaganda do 3o Reich. Mentira repetida várias vezes, convertendo-se em verdade, sua premissa principal. Obsoleta devido a capilaridade das redes sociais, agora basta dizer a mentira uma vez e esperar que ela se transforme em verdade instantânea. Deixando de ser algo objetivo, a verdade transformada em um dado de adesão voluntária. Hoje a verdade é aquilo que um indivíduo ou uma comunidade desejam que seja ou uma justificação plausível para atitudes culturais ou políticas que seriam de outra maneira caracterizadas como radicais, preconceituosas ou antidemocráticas.

Em 2016, o Oxford Dictionary definiu o que é “pós-verdade” (post truth em Inglês): um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais[…] Pós-verdade deixou de ser um termo periférico para se tornar central no comentário político, agora frequentemente usado por grandes publicações sem a necessidade de esclarecimento ou definição em suas manchetes”, escreve a entidade no texto no qual apresenta a palavra escolhida. Usando pós-verdade extensivamente, candidatos a presidência do Brasil e dos Estados Unidos lograram uma vantagem eleitoral que não teria sido possível, se o debate e a narrativa política tivessem sido fundamentados em fatos verídicos e pronunciamentos objetivos.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores