Destruíram nossas torres , anunciou o jovem ao chegar à porta. Chorava incontrolavelmente. Terça feira, 11 de setembro de 2001. Pearl Harbour no asfalto. Ninguém queria comentar sobre o evento, jantamos em silêncio. Memórias do nosso escritório, por cinco anos, na década de 70, andar 69 da torre gêmea II do World Trade Center…
O dia começou bonito, brilhante. Manhattan ainda não havia voltado ao normal, oito dias depois do tradicional weekend do Dia do Trabalho. Fim do verão de 2001. O motorista paquistanês nos conduzia lentamente ao longo da 5ª avenida. Passamos por grupos de pessoas na calçada da Tiffany. Movimentos frenéticos em direção à fumaça negra. Labaredas visíveis à distância. Parece ser um grande incêndio perto da Macy’s, comentário non-challant de um taxista nova-iorquino. A sonoridade melódica da música cantada em Urdú nos isolava da balbúrdia que se espalhava pelas calçadas ao largo do caminho. Continuamos nossa jornada, olhos semicerrados até chegar ao Edifício Chrysler, esquina da Rua 42 com a Avenida Lexington.
Atacaram os Estados Unidos […] as torres gêmeas foram destruídas, alertou-nos o guarda da ONU no 15º andar. Caminhamos rapidamente em direção ao nosso gabinete. Calma inconfortável, corredores vazios… Ouvimos alguém chorando. Decidimos investigar. Casal jovem abraçado, ombros molhados por lágrimas misturadas com o suor da emoção do momento. Destruíram nossas torres, o mantra do dia. Pediram nossa atenção, tinham algo importante para dizer. Breve anúncio non sequitur: Decidimos casar. Voz metálica ressoando pelos corredores: Por favor, evacuem o prédio pelas escadarias.
Bin Laden está morto, anunciou um correspondente sênior da Cadeia CNN. Refinamentos e nuances da operação analisados e explicados em seguida por comentaristas versados na arte da guerra. Morreu líder absoluto do sistema de comando e controle da central terrorista que havia criado. Déspota solitário, tentando derrubar os soberanos antidemocráticos do mundo árabe e as democracias do Ocidente. Cercado por movimentos populares, propondo alternativas democráticas nas ruas do Cairo, Manama, Túnis, Sana, Damasco, Trípoli enquanto caminhava para sua eventual obsolescência, dentro do casulo milionário em que vivia.
Lembranças daquele dia em Manhattan. Foto da Ponte do Brooklyn sobreposta às torres gêmeas. Capa do livro Columbia Guide to New York, editado por Alexander; design gráfico de Paul. Nossos filhos. Retrato de Emma, fruto da união dos colegas que descobriram que se amavam na escuridão de um mundo cheio de ódio, desespero e desejo de retaliação.
As torres da vida não caíram no dia 11 de setembro de 2001.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores
Surpreendente artigo, ou, seria comentário ?’
Gostei dos cortes, do movimento.
Que tempos!
Abraços
Parabens, Palmari. O 11 de setembro, como Pearl Harbour, a Jornada da Infâmia segundo Roosevelt, mantém vivos os pilares da democracia, mesmo que contra ela atentem milionários ensandecidos por sua milionária fortuna do petróleo como Bin Laden, ou loucos como Hitler ou Mussolini. Seu comentário é uma síntese da maioria do pensamento da bondade humana, felizmente maioria no mundo. Parabens.