Marcação: Entre a Preservação Cultural e o Desafio das Mudanças Climáticas

Marcação: Entre a Preservação Cultural e o Desafio das Mudanças Climáticas

A má gestão da orla em Marcação, um problema recorrente em muitas regiões costeiras do Brasil, tem impactos profundos, que se agravam com as mudanças climáticas. A construção de imóveis à beira-mar, sem critérios claros de conservação e proteção ao meio ambiente, coloca em risco tanto as paisagens naturais quanto a segurança da população. A falta de planejamento adequado, somada à elevação do nível do mar e ao aumento das tempestades, ameaça a destruição de propriedades e a degradação dos ecossistemas locais, como manguezais e restingas, que desempenham um papel crucial na preservação da biodiversidade.

No contexto de Marcação, cidade que equilibra com maestria a preservação de suas tradições indígenas com o progresso contemporâneo, essas questões ambientais ganham uma dimensão especial. A rica herança dos povos Potiguaras, reconhecida oficialmente desde 1700, enfrenta novos desafios com as transformações climáticas e o desenvolvimento desordenado da faixa litorânea. A urbanização começou com o Engenho Preguiça e foi impulsionada pela instalação da fábrica de tecidos dos irmãos Lundgren, mas o crescimento econômico, sem a devida atenção às questões ambientais, pode comprometer o futuro.

A eleição de Ninha, a primeira mulher indígena Potiguara a se tornar prefeita no Brasil, em 2024, representa um marco não apenas para a preservação cultural, mas também para o enfrentamento dessas questões. Sua liderança tem o potencial de guiar Marcação em uma nova fase de políticas públicas que conciliem o desenvolvimento sustentável com a conservação das áreas costeiras e a adaptação às mudanças climáticas.

A Praia de Coqueirinho do Norte, um dos principais atrativos turísticos da cidade, com suas falésias vermelhas e águas cristalinas, é também vulnerável à erosão costeira, que já afeta diversas áreas do litoral paraibano. O encontro das águas do Rio Caieiras com o mar, um cenário de beleza ímpar, depende da preservação dos ecossistemas ribeirinhos, igualmente ameaçados pela ocupação desordenada.

Apesar dos desafios, Marcação segue firme em sua trajetória de progresso sustentável. A presença da Câmara Municipal, composta inteiramente por representantes indígenas, reflete o compromisso com a preservação ambiental e cultural, elementos essenciais para a resiliência frente às adversidades climáticas. A Trilha dos Potiguaras, que promove o turismo ecológico, é um exemplo de como o equilíbrio entre natureza e cultura pode ser uma solução para o futuro da região, promovendo o desenvolvimento econômico sem sacrificar o meio ambiente.

Marcação, ao valorizar suas tradições e a herança ancestral dos Potiguaras, tem a oportunidade de se tornar um modelo de gestão responsável da orla, evitando os erros cometidos em outras áreas do país e integrando políticas de adaptação às mudanças climáticas em sua estratégia de crescimento. O compromisso com a preservação do meio ambiente é a chave para garantir um futuro sustentável, tanto para as comunidades indígenas quanto para os demais moradores e visitantes.

Palmarí H. de Lucena

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