Mamanguape, no coração da Paraíba, possui uma história marcada por confrontos, resiliência e esperança. Fundada no contexto da colonização europeia e das batalhas contra os potiguaras, sua trajetória começou em 20 de novembro de 1585, quando Martim Leitão e o capitão João Tavares lideraram uma expedição que cruzou o rio Mamanguape em direção à Baía da Traição. O confronto com os indígenas foi violento, consolidando a vitória dos colonizadores e a ocupação das terras.
No século XVII, a região prosperou, favorecida pela localização estratégica nas margens do rio Mamanguape. A abundância de água, os rios navegáveis como o Mamanguape e o Camaratuba, o solo fértil e a exploração do pau-brasil impulsionaram o crescimento econômico. Esses fatores promoveram aldeamentos indígenas e a construção da aldeia de Monte-Mor.
O nome Mamanguape, de origem tupi, significa “onde se reúne para beber”, referindo-se ao rio. Em 1855, a vila foi elevada à categoria de cidade pelo Barão de Mamanguape, Dr. Flávio da Silva Freire, tornando-se um dos principais centros econômicos da província, especialmente no comércio de açúcar.
Entre 1850 e 1900, Mamanguape viveu seu apogeu. Era a cidade mais rica da província depois da capital. Suas ruas pavimentadas e iluminadas por lampiões refletiam a prosperidade de uma aristocracia rural. A cidade importava artigos de luxo, como tecidos finos, e suas residências exibiam azulejos portugueses. O influxo de famílias portuguesas e italianas trouxe uma sofisticação cultural, influenciada por costumes franceses que moldaram a vida local.
O ponto alto da história de Mamanguape foi a visita do imperador Dom Pedro II, em 27 de dezembro de 1859, com uma comitiva de duzentas pessoas. Ele recebeu as chaves da cidade e hospedou-se na casa do Dr. Antonio Francisco de Almeida Albuquerque, hoje o Paço Municipal. Dom Pedro II visitou a Igreja Matriz, encantando-se com suas imagens de madeira e lustres de cristal Baccarat. O imperador também visitou a Igreja do Rosário, construída por escravos negros, e inspecionou a cadeia pública, verificando as condições dos presos.
Entretanto, o esplendor de Mamanguape começou a declinar com a crise da indústria açucareira, sua principal fonte de riqueza. A abolição da escravatura, o fechamento do porto de Salema e a construção da ferrovia desviaram o comércio, agravando a crise econômica. A concorrência com o açúcar caribenho também contribuiu para o declínio no século XX.
Apesar disso, Mamanguape resistiu. A retomada começou em 1924, com a instalação da Fábrica de Tecidos Rio Tinto e a Usina Monte Alegre em 1940. Outras melhorias vieram com a abertura da Caixa Econômica em 1953, a inauguração da Maternidade Nossa Senhora do Rosário em 1958 e a eletrificação. A construção da BR-101 nos anos 1970, conectando João Pessoa a Mamanguape e Natal, reposicionou a cidade economicamente.
Hoje, Mamanguape segue em busca de um novo capítulo de prosperidade, sustentada por sua herança cultural e histórica, mantendo vivo o espírito de resiliência.
Palmarí H. de Lucena, Paraíba do Alto: Histórias e Imagens Aéreas