O povo brasileiro não pode nem deve continuar a tratar com indiferença, cenas da abjeta miséria que nos remetem a lugares distantes, geograficamente ou na imaginação precária daqueles que optam propositalmente pela cegueira deliberada ou o negativismo. Mulheres e crianças disputando ossos, frutas apodrecidas ou migalhas de mesas fartas, em monturos, caminhões de lixo seguindo os passos de garis, como bagres esfomeados, mostrando a cara de um Brasil, que muitos preferem ignorar ou fazer de contas que não existe. Parece que a dor de ter sentimentos torna-se confortavelmente passageira, para aqueles que enxergam a fome e a pobreza como objetos indesejáveis na vitrina do progresso e da falsa decoração projetada pelo blábláblá sulfuroso e ilusionismo dos mestres do Brasil pátria amada…
Dezoito anos atrás, Presidente Lula assinou a Medida Provisória no 132 criando a Bolsa Família, que chegou à maioridade em 2021, esfarrapada pelo revanchismo desagregador do Presidente Bolsonaro e a sanha peçonhenta de seus janízaros. Desconforto ideológico com o programa de combate a pobreza, recebedor de inúmeros e importantes prêmios internacionais, replicado por vários países e exaltado pela comunidade internacional e organismos multilaterais. Responsável pela saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU em 2005, transformou-se na palha que quebrou as costas do camelo, alvo do minimalismo míope que destrata, humilha e monetiza a pobreza como um recurso eleitoreiro, de viés estereotipado pela imagem de dono de plantação, comprando a lealdade do lumpesinato Nordestino.
Troca do nome de Bolsa Família para o Auxílio Brasil, em um programa de transferência de renda sem nenhum contexto de política social e flagrantemente destinado como uma isca eleitoral para beneficiários do Bolsa Família e os que estão há anos na fila de espera, excluindo os demais que receberam auxílio emergencial. O novo “auxilio” não considera as graves consequências da pandemia ao empobrecimento da população, o preço dos alimentos e a perda de familiares que ajudavam ou sustentavam a casa. São mais de 600 mil brasileiros mortos pela covid-19, quase 20 milhões de famintos e mais de 50 milhões vivendo em condições de insegurança alimentar.
Cinicamente, o governo acena supostos benefícios do programa com a possibilidade de permitir um desconto de até 30% do valor do benefício para pagar consignados, autorizando e valorizando a possibilidade de endividamento dos beneficiários. Tentando ludibriar o povo com uma artimanha bancado pelo Erário, cuja data de validade é dezembro de 2022. Torna-se necessária uma resposta digna a este desafio e muito outros sargaços que chegarão à praia, trazidos pela maré alta de um ano eleitoral.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores