Lições da pandemia

Lições da pandemia

Testemunhamos a propagação do vírus Ebola na África, aumento exponencial de vitimas de HIV/AIDS, tuberculose, malária, gripes pelo vírus influenza e momentos de extrema miséria humana resultante de conflitos armados e calamidades naturais. Prevaleceu o espirito de cooperação multilateral e solidariedade humana, esquecemos diferenças para juntos alcançamos grandes conquistas cientificas, o mundo regozijava em cada descoberta de novas vacinas. Fomos surpreendidos por uma devastadora pandemia de um novo coronavírus, desafiando a lógica de uma humanidade acostumada com a ideia que fenômenos desta natureza só aconteciam na ficção cientifica.

Governos enfrentaram a crise com reações desnorteadas, posições contraditórias, muitas vezes opostas a praticamente tudo que a ciência nos havia ensinado. Identificado inocuamente como Covid-19, uma doença camaleônica e traiçoeira, microcosmo de um fenômeno aproximando-se a um apocalipse sanitário, rasgando o tecido frágil do entendimento entre povos, países e instituições. Tivemos a recidiva de um outro tipo de vírus, aquele que pensávamos haver destruído ao longo do Século Vinte, extremismo ideológico e nacionalismo tóxico asfixiando conhecimento cientifico, subestimando os perigos do coronavírus.

Lideres extremistas, atravessadores da miséria humana, jóqueis do poder absoluto, descobriram que tinham algo em comum, podiam aparelhar a pandemia para alavancar supremacia politica com negacionismo, desinformação e mentiras sobre a letalidade, abrangência e eficácia de medidas preventivas para achatar a curva do contágio. Forjaram um universo paralelo com a realidade imaginada de falsos líderes, pregadores do medo espalhando preconceitos nutridos por uma ideologia política revanchista, profundamente adversa a valores democráticos.

Isolamento forçou pessoas a tomar em conta muitas coisas, que consideravam triviais, pequenos incômodos ou meras distrações. Vivemos uma situação de insegurança, desespero e medo, causada devido a falta do conforto, o qual acreditávamos ser um direito nato e que a pandemia nos fez entender, que era uma conquista. Pranchetas de projetos abertas, muitos traçaram uma rota para chegar a sua estrada de Damasco, em busca do revestimento prateado nas nuvens escuras augurando um futuro incerto.

É necessário compreender os perigos e os sacrifícios da jornada, o conforto do passado não existe mais, nem pode ser resgatado. Devemos não consumir por consumir, cuidar da saúde, fortalecer famílias, atuar no coletivo com colegas de trabalho ou vizinhos, deixar as lições da pandemia nos ajudar a rever valores, contribuir para um mundo livre de preconceitos e evitar extremismos, que podem agravar as incertezas da pandemia.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Mirtala Linares disse:

    Excelente analisis.Mi reconocimiento para el Ing. Palmari .

  • K disse:

    Excelente texto – o fio condutor nos leva aos horrores do mundo

  • Rodolfo disse:

    Denso e sensível texto.; estamos sempre atentos ao que você escreve.

  • Marceleuze disse:

    Absolutamente verdadeira.
    Uma reflexão sobre uma plêiade de infortúnios, que atingiram a humanidade em diferentes épocas.
    Agora, que tudo se nos afigurava controlado pela tecnologia, o mundo chora as inúmeras perdas de vidas. Mas, não o mundo todo. Encastelados nos cumes do Poder, governantes se ausentam do dever de solidariedade ou mesmo compaixão, que se traduziriam em ações mais concretas no combate à pandemia.

  • Neroaldo Pontes disse:

    Texto denso, mostrando claramente duas pandemias, uma do Covid-19 e outra da forma como ela vem sendo enfrentada no Brasil, particularmente pelo poder executivo federal.

  • Saulo Londres disse:

    Um texto que descreve o que foi feito por ganâncias individuais e coletivas e desabrocha para o mais primário pensamento cerebral não negacionista a a realidade dos fatos. Parabéns

  • João Mavêdo disse:

    Alguns virus têm feito incursões em países no mundo inteiro causando grande mortandade nas populações humanas. Esse fenômeno vai se repetir, dependendo de vários fatores.
    Tão lamentável quato as mortes ocorridas é a atitude intempestiva de governantes que, por ignorância e vaidade não seguem a ciência, na conduçào dessas tragédias. O resultado é o caos.

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