A liberdade, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, é um conceito que ao longo do tempo assumiu múltiplos significados, sendo, em muitos casos, distorcida para servir a interesses específicos. Enquanto para alguns a liberdade representou uma verdadeira emancipação, para outros foi sinônimo de repressão, opressão e exclusão. Em ambas as nações, a noção de liberdade está diretamente ligada à participação ativa na vida política — um dos pilares fundamentais da democracia. Mas como garantir que essa liberdade, em sua forma mais genuína, seja assegurada de maneira eficaz e igualitária?
Nos dois países, o conceito de liberdade é amplamente celebrado, independentemente das divisões ideológicas. Mesmo em tempos de profunda polarização, como ocorre atualmente tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a liberdade continua sendo um valor central para diferentes correntes políticas. No entanto, à medida que o debate sobre o declínio democrático cresce, é alarmante observar como a noção de liberdade é frequentemente manipulada para servir a fins particulares, desviando-se de seus princípios mais universais.
A ideia de liberdade, no sentido ideal, deveria ser inseparável da democracia. Nos Estados Unidos, liberdade de imprensa, de reunião e o direito ao voto são frequentemente usados de forma intercambiável com o conceito de democracia. No Brasil, a luta histórica pela redemocratização após a ditadura militar também moldou essa visão. No entanto, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, essa liberdade foi, em momentos críticos, deturpada para justificar o domínio de uns sobre outros. Historicamente, a liberdade local foi muitas vezes concebida como o direito de controlar — o direito de dominar terras ou excluir minorias políticas e sociais de posições de poder.
Essa distorção é particularmente evidente no discurso antissistema e antigoverno promovido pela extrema-direita nos dois países. Nos Estados Unidos, o discurso de que “menos governo significa mais liberdade” tem ganhado força, assim como no Brasil, onde figuras públicas advogam por uma suposta liberdade contra as instituições democráticas, defendendo que a intervenção governamental seria um obstáculo para o florescimento da verdadeira liberdade. No entanto, essa noção é ilusória. Uma sociedade verdadeiramente livre depende da existência de um governo justo e eficaz, que proteja seus cidadãos contra a arbitrariedade, a violência e o abuso de poder, promovendo o bem-estar de todos.
Sem governança adequada, as consequências são claras: o aumento da desigualdade, a opressão dos mais vulneráveis e o fortalecimento das elites econômicas e políticas. Nos Estados Unidos, o enfraquecimento do governo é muitas vezes celebrado como um caminho para a liberdade individual, mas, na prática, isso pode significar a destruição das garantias básicas de justiça e equidade. No Brasil, a mesma retórica é usada para justificar ataques às instituições democráticas, defendendo que a liberdade só existe na ausência de interferência estatal.
Portanto, é crucial reconhecer que a verdadeira liberdade floresce em um ambiente onde há estruturas de governo que garantem os direitos de todos os cidadãos, e não apenas de uma parcela privilegiada. Em ambos os países, é preocupante quando o conceito de liberdade é usado como arma política. Quando um partido reivindica a liberdade para si, desvirtua-se o significado desse valor, transformando-o em motivo de disputa partidária.
Assim, seja nos Estados Unidos ou no Brasil, a liberdade não deve ser reduzida a um slogan vazio ou um instrumento de manipulação política. Ela deve ser defendida como um direito universal, garantido por um governo que promova a justiça, a equidade e o bem-estar de todos, sem exceção. A verdadeira liberdade, afinal, depende tanto de um governo justo quanto do compromisso coletivo em proteger os valores democráticos que a sustentam.
Palmarí H. de Lucena