Crescemos ouvindo uma lenda alertando sobre o perigo de consumir leite e manga, sem nenhuma explicação cientifica. Boato espalhada por fazendeiros durante a escravidão, com intento de dissuadir a ordenha e consumo de leite por escravos e relega-los a alimentar-se de frutos que caiam no chão. Na Europa o filósofo francês Roland Barthes caracterizou o leite como uma bebida exótica, argumentando que o vinho deveria ser a única substância nacional, desafiando a política leiteira do Primeiro Ministro Mendès France, seu grande defensor. Barthes argumentou que o leite tinha “[…] pureza, associada à inocência da criança […]”. Muitas lendas costurando uma colcha de retalhos de sua história milenar.
Hollywood promoveu uma imagem de pouca inocência para o leite, realçando personagens associados com atos de violência e crueldade com a pessoa humana. Uma cena do filme “Bastardos Inglórios”, mostra o oficial nazista Hans Landa ingerindo um copo de leite, estalando os lábios com prazer e cumprimentando as vacas pela boa qualidade do produto, mesmo sabendo que está prestes a assassinar judeus escondidos no subsolo da sala. Anton Chigurh no “Os Fracos Não Têm Vez” e os Soberanos de “Mad Max: Estrada da Fúria” bebiam leite, enfatizando a dicotomia entre gostos alimentares e ações violentas.
Depois de muitos séculos, o leite aparenta haver chegando a uma junção crítica da sua história. O pedido de falência da Dean Foods, a maior produtora de leite liquido dos Estados Unidos desde 1928, sinaliza o fim da popularidade da bebida. Leite vegetal, produtos livres de lactose, com sabores diversos e queijos, são hoje os principais responsáveis pela queda na demanda pelo produto. O declínio da indústria leiteira é atribuído às mudanças nos padrões de consumo da população e a inflexibilidade de laticínios em adaptar-se as novas demandas e realidades do mercado. Produtores brasileiros que tomem nota…
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores