Ilhas de rocha quebrando a monotonia da paisagem árida do pediplano sertanejo, coberto de vegetação baixa de produtividade marginal. Três açudes visivelmente em máxima capacidade, contrastando com o volume morto de açudes em cidades vizinhas. A estrada sinuosa nos levou ao perímetro urbano evidenciado pelos campanários de uma igreja, a súbita proliferação de motociclistas e a presença etérea da Serra do Mulungu. Chegamos à rua principal, tapete vermelho de todos acontecimentos da pequena cidade de São João do Sabugí, no Seridó do Rio Grande do Norte.
Fileiras de casas eclécticamente construídas e decoradas, o minimalismo arquitetônico de construções modestas mais antigas contrastando com tentativas de modernidade ou mesmo moderada ostentação. Calçadas em estilos e conservação variadas acompanham a extensão da rua. Acontecimentos do cotidiano e eventos são disseminados através de redes sociais, pessoas influentes ou nas sempre-presentes conversas de calçada. Formas tradicionais e não tradicionais de comunicação assegurando que a obscuridade não é um privilegio ou opção na pequena cidade.
Decorado com um pentagrama musical, o brasão é um símbolo importante da vocação cultural da cidade. Festas religiosas complementadas pela Festa do Agricultor, o Encontro de Poetas e a Semana do Folclore animadas pela quase centenária Filarmônica Honório Maciel, formam um calendário dinâmico e diversificado. Atividades organizadas por voluntários promovem valores éticos, autoestima e inclusão social da juventude. Fertilidade criativa tão fértil como suas belas mangueiras.
Descrevendo as fontes de renda da cidade, um cidadão identificou duas atividades, exportação de queijos de primeira qualidade e professores. Pequena cidade sobrevivendo com recursos da sua herança cultural e do potencial humano da sua juventude. Talvez São João do Sabugi tenha decifrado uma maneira simples de resolver a complexa equação da participação popular no desenvolvimento sustentável…
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores