João Pessoa à Venda: O Preço do Turismo Predatório e o Abandono da População

Photo by Palmarí H. de Lucena
João Pessoa à Venda: O Preço do Turismo Predatório e o Abandono da População

João Pessoa, capital da Paraíba, sempre foi reconhecida por sua tranquilidade, pela harmonia entre urbanização e natureza e por uma qualidade de vida que atraía tanto turistas quanto novos moradores. Contudo, essa realidade vem se transformando de maneira acelerada e preocupante. O crescimento desordenado e a priorização do turismo em detrimento das necessidades da população revelam um cenário de descaso e negligência por parte do poder público. O brilho do desenvolvimento encobre problemas estruturais cada vez mais evidentes, enquanto a cidade se torna refém de um modelo econômico que privilegia o lucro imediato à custa da sustentabilidade e do bem-estar social.

A explosão turística dos últimos anos colocou João Pessoa no radar nacional e internacional como um destino em ascensão. Novos empreendimentos de luxo, resorts e beach clubs surgem ao longo da orla, transformando a paisagem e impulsionando a economia. A cidade, antes discreta, agora ostenta recordes de ocupação hoteleira, com taxas próximas de 100% na alta temporada. No entanto, a promessa de prosperidade não se reflete de forma igualitária para todos. Enquanto investidores e empresários celebram a expansão do setor, a população local enfrenta o aumento do custo de vida, a precarização dos serviços públicos e a especulação imobiliária que expulsa moradores tradicionais de suas comunidades.

O crescimento acelerado, sem um planejamento urbano adequado, tem sobrecarregado a infraestrutura e aprofundado desigualdades. O trânsito se torna caótico, a inflação imobiliária encarece a moradia, e a expansão desordenada ameaça o equilíbrio ambiental. Áreas antes preservadas cedem lugar a construções desenfreadas, a vegetação nativa é eliminada e os ecossistemas costeiros sofrem os impactos da urbanização descontrolada. A identidade de João Pessoa, que sempre esteve atrelada ao seu patrimônio natural e cultural, corre o risco de ser irreversivelmente comprometida.

Enquanto o governo e o setor privado insistem na narrativa de um progresso inevitável, especialistas e movimentos sociais alertam para os perigos de um turismo predatório que consome sem devolver. A cidade precisa urgentemente de um modelo de crescimento que não seja excludente e que leve em consideração as demandas da população mais vulnerável, que hoje convive com ruas esburacadas, praças abandonadas, saneamento precário e serviços públicos ineficientes. O contraste entre a opulência das novas áreas turísticas e o abandono dos bairros mais afastados é cada vez mais gritante, revelando uma gestão que prioriza visitantes em detrimento dos próprios cidadãos.

João Pessoa vive um momento decisivo e precisa escolher entre repetir os erros de outras capitais nordestinas, que perderam sua essência ao cederem ao crescimento descontrolado, ou traçar um caminho que equilibre desenvolvimento e preservação. O futuro da cidade depende da resistência de seus habitantes, da exigência por políticas públicas que promovam a inclusão social e da adoção de medidas que garantam um turismo responsável, que respeite não apenas o meio ambiente, mas também aqueles que fazem de João Pessoa um lugar único.

Se nada for feito, a cidade corre o risco de se tornar apenas mais um cartão-postal explorado por interesses econômicos alheios à sua identidade. Mas se o planejamento for conduzido com inteligência e responsabilidade, João Pessoa pode reafirmar seu lugar como um destino de referência, onde o crescimento não significa destruição e onde o turismo convive em harmonia com a qualidade de vida de quem realmente vive e constrói essa cidade.

Palmarí H. de Lucena

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