Jaguaribe, o Bairro que Pulsava

Jaguaribe, o Bairro que Pulsava

No campo, o Coca-Cola
era craque de respeito,
com drible, chute e manobra,
fazia gol sem defeito.
Gerson Boi Cagão vinha firme,
parecia ter mais peito.

O Galego do Material
vendia tudo à mão cheia.
E nas barracas do local —
João Bafo e sua aldeia —
Livardo e Agapito
traziam música na veia.

Cantavam belas modinhas
que encantavam juventude.
As moças, calmas, sozinhas,
com modesta atitude,
dobravam pano e tecido
com discreta solicitude.

A sinuca da Doze então
tinha fama de ilusão:
“Ali começa a perdição!”
diziam com reprovação.
Mas era só passatempo
de taco, giz e atenção.

No Clube dos Caçadores,
Júlio Morcego mandava.
Com espingardas e amores,
a turma se encontrava.
Mais pose que precisão,
mais risos que coisa brava.

Na porta do Cine São José,
os gibis circulavam.
Com Ginebra e São João,
os resfriados passavam.
E o bairro, como uma prece,
nos braços do tempo andava.

Por Palmarí H. de Lucena