Pelos sinuosos caminhos do Brejo paraibano, entre o interior e o litoral, ergue-se o antigo povoado de São João de Mamanguape. O local, mais do que uma parada para comerciantes e viajantes, oferecia uma promessa de permanência, seduzindo com suas terras férteis e abundantes recursos naturais. Foi assim que se formou uma comunidade profundamente enraizada na fé e no trabalho árduo de seus pioneiros.
Ao final do século XIX e início do XX, Itapororoca viu sua identidade espiritual ser moldada por um episódio quase lendário. Por volta de 1800, João Batista, após ser capturado por povos indígenas no Amazonas, fez uma promessa enquanto cativo: se sobrevivesse e voltasse são e salvo, ergueria uma capela em homenagem a São João Batista. O cumprimento dessa promessa resultou na construção da capela, que ainda hoje resiste, mesmo sobreposta por um posto de gasolina, permanecendo como um símbolo de espiritualidade e fé para a comunidade.
Conforme as décadas passaram, Itapororoca continuou a evoluir, passando por transformações econômicas que fortaleceram seu desenvolvimento. A chegada do imigrante alemão Sr. Smith, que fundou a primeira padaria em 1929, marcou o início de uma nova era. Antes disso, o progresso já havia começado com Pedro Gervásio e seu filho, Francisco Antônio Cleto, que instalaram as primeiras máquinas para o beneficiamento de algodão. Mais tarde, Manoel Gomes introduziu a tecnologia a vapor, acelerando o crescimento industrial da cidade.
O marco de sua autonomia veio em 1962, com a promulgação da lei nº 2.701, que oficializou a emancipação da cidade. A comemoração foi marcada pela construção de uma nova igreja, reforçando a forte identidade religiosa e comunitária que ainda hoje define Itapororoca.
Contudo, é na preservação de seus recursos naturais que Itapororoca se destaca. O Parque Ecológico da Nascença é um verdadeiro oásis de biodiversidade e um exemplo de conservação ambiental. As piscinas, alimentadas por uma nascente cristalina, são um símbolo da pureza das águas da região, enquanto as trilhas permitem que moradores e visitantes explorem os segredos da Mata Atlântica. O parque não é apenas um local de lazer, mas uma manifestação viva da harmonia entre o homem e a natureza. Ele é palco de encontros comunitários, piqueniques e celebrações familiares, perpetuando o respeito e a gratidão da comunidade pelos recursos que a terra oferece.
Essa nascente, que jamais secou, nem mesmo nas secas mais severas, é um recurso hídrico vital para Itapororoca. Protegida por lei municipal, ela garante o abastecimento da cidade e está localizada 98 metros acima da área urbana, o que permite um fluxo natural de água por gravidade. O fato de Itapororoca ter sido beneficiada pela atividade vulcânica ancestral da região não só moldou a geografia local, como também deixou um legado natural de rochas vulcânicas, que além de embelezarem o parque, contam uma história geológica única e enriquecem o patrimônio natural do município.
A sustentabilidade e a conservação de Itapororoca vão além de proteger as nascentes e os parques. O compromisso da comunidade com o uso responsável dos recursos naturais é visível em sua gestão ambiental. O equilíbrio entre tradição, fé e inovação é a chave para o desenvolvimento sustentável da cidade, garantindo que as gerações futuras desfrutem da mesma riqueza natural que seus antepassados souberam proteger.
A saga de Itapororoca continua a ser escrita por gerações que entendem que progresso e preservação caminham lado a lado. Este recanto da Paraíba, com sua história rica, recursos naturais abundantes e visão voltada para o futuro, permanece como um exemplo de como o respeito às raízes e à natureza pode projetar uma cidade para um futuro próspero e sustentável.
Palmarí H. de Lucena, Paraíba do Alto: Histórias e Imagens Aéreas