A recente manifestação em apoio a Israel durante o protesto convocado pelo ex-presidente Bolsonaro, é um reflexo da influência político-religiosa que vem se estabelecendo no Brasil nos últimos anos. O uso de símbolos como a estrela de David e a bandeira de Israel em eventos evangélicos, bem como a adesão de líderes religiosos ao bolsonarismo, têm contribuído para fortalecer essa relação.
É também importante lembrar que o apoio a Israel e suas políticas não se restringe apenas aos evangélicos bolsonaristas. Existem igrejas do protestantismo histórico, trazidas dos Estados Unidos, que também demonstraram apoio ao país do Oriente Médio. Esse apoio tem suas raízes em correntes religiosas, como o dispensacionalismo, que enxerga Israel como parte dos eventos finais do mundo.
Existe, porém, a necessidade de manter um olhar crítico sobre essa relação de apoio incondicional. As políticas israelenses são alvo de conflitos e polêmicas em diversos contextos internacionais, o que tem levado a comparações inadequadas com o Holocausto e os ataques do exército israelense contra a população e infraestrutura da Faixa de Gaza. Além disso, observa-se o crescimento do antissemitismo e da islamofobia, manifestados de várias maneiras, como ataques físicos a sinagogas e mesquitas, discursos de ódio, discriminação no local de trabalho e exclusão social.
Embora alguns cristãos evangélicos vejam a existência do Estado de Israel, como parte do cumprimento de profecias bíblicas sobre o retorno do povo judeu à sua terra, é importante lembrar que os indivíduos e as denominações evangélicas podem ter interpretações diversas sobre esse assunto. Para alguns, o foco está mais em Jesus Cristo e no Novo Testamento, vendo a Igreja como o novo povo de Deus, independentemente da nacionalidade ou identidade étnica. Entre os evangélicos, as interpretações das escrituras e as perspectivas teológicas podem variar consideravelmente entre os indivíduos e as diferentes denominações.
A interpretação de Israel como um sinal divino para o cristianismo, é baseada em crenças religiosas pessoais e não em fatos. Embora cada pessoa tenha o direito de acreditar no que quiser em termos religiosos, é importante questionar e analisar essas ideias com base em argumentos lógicos e racionais. Acreditar que o cumprimento da promessa de Deus do Antigo Testamento está relacionado à criação do Estado de Israel em 1948, pode ser considerado uma interpretação subjetiva e controversa, já que não há evidências concretas para apoiar essa teoria.
Em suma, diante das complexidades e controvérsias envolvendo Israel, é crucial que cada indivíduo faça sua própria avaliação das informações e ideias apresentadas sobre o país. Isso envolve buscar uma compreensão ampla e aprofundada, considerar diferentes perspectivas e questionar a narrativa político-religiosa que está sendo apresentada. Ao fazer isso, poderemos formar opiniões mais embasadas e construir um entendimento mais completo sobre o papel de Israel na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Colinas de Golã e no cenário internacional, como um todo.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores