Desafiando a lógica das guerras civis mesoamericanas, Costa Rica seguia sua caminhada dentro de uma superfície pequena e desmilitarizada, coexistindo pacificamente com todas as partes interessadas sem o ônus de gastos extraordinários para manter estruturas contaminadas pelo viés ideológico. Estávamos nos finais dos anos de 1980, a beligerância e enfrentamentos armados começando a sucumbir às mudanças no comportamento dos principais atores do mundo bipolar, os patrocinadores das guerras. A queda do muro de Berlim, o crescendo de uma sinfonia inacabada…
Homem moreno de estatura mediana vestido em um traje de linho estilo safari, apresentou-se sem grande formalidade ao nosso escritório em San José, na Costa Rica, chamava-se Clodomir de Morais. Exilado nos anos da ditadura brasileira, retornara em 1988 para participar em uma guerra contra o desemprego e a dependência através da Metodologia de Capacitação Massiva que ajudara a desenvolver, em bem-sucedidos projetos das Nações Unidas, ONGs e organizações humanitárias da Igreja Católica na América Latina e na África. Seria sua grande batalha até a morte em março deste ano.
A metodologia se baseava na pressuposição de que as pessoas têm potencialidades que podem ser otimizadas e que recursos humanos e materiais não utilizados em comunidades pobres podem ser mobilizados na criação de atividades produtivas, em um contexto de desenvolvimento local e sustentável. Auto-gestão comunitária superando a dependência fomentada por “[…]lideranças de tipo paternalista, baseadas na distribuição de favores alimentados pelos cofres públicos.”
Vivemos um clima de desemprego, dependência e a herança de programas sociais condescendentes atrofiando a capacidade de auto-gestão de comunidades pobres, vitimados pela criminalidade e excessos policiais. Talvez seja hora de aperfeiçoar e relançar sua metodologia de capacitação massiva, de declararmos uma guerra aberta contra a praga do desemprego que assola o país.
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores