Gincana de vacinas

Gincana de vacinas

Como amplamente demonstrado na CPI da Covid-19, a folha de parreira sendo usada pelo Governo para justificar a falta de alacridade na compra de vacinas, foi a necessidade de certificação previa dos imunizantes pela ANVISA. Argumento reiterado extemporaneamente como impedimento a negociações e contratos com empresas farmacêuticas, ignorando o fato que a compra ou reserva de doses de vacinas nunca esteve atrelada a aprovação de seu uso em larga escala, como aconteceu em praticamente todos os países, que sucederam em montar campanhas de vacinação de alta eficácia e alcance populacional.  

Os Estados Unidos contrataram quantidades de imunizantes suficientes para inocular todos seus cidadãos e ainda manter uma reserva estratégica. O governo do Presidente Trump além de não consultar seu órgão regulador, o Food and Drug Administraton – FDA, mesmo sendo negacionista, investiu fortunas bilionários no desenvolvimento e testagem de vacinas, embora sem garantia da eficácia ou segurança do produto.  Países pequenos como a Seicheles e Israel, seguiram a mesma rota, alcançando posições invejáveis no ranking mundial de percentual da população imunizada. Todos firmaram os chamados Acordos de Compras Avançadas (ACAs) com empresas farmacêuticas, incluindo cláusulas padrão e condicionando a entrega das doses a aprovação pelas autoridades sanitárias.

Corona vírus surpreendeu o mundo, afetando estruturas e instituições globais com robusta intensidade, subestimando anos de cooperação internacional, desafiando estratégias multilaterais e instrumentos criados para assegurar respostas globais a pandemias ou esforços pela mitigação de consequências socioeconômicas, em países desigualmente afetados por crises sanitárias. Viés nacionalista na aquisição de imunizantes contra a covid-19, forçaram a hierarquização do combate a pandemia diante do poder de compra de países ricos e concomitante domínio do mercado de imunizantes.

Concentração de vacinas em países ricos e barreiras de exportação na Índia, podem afetar gravemente ou mesmo inviabilizar as metas de COVAX Facility, mecanismo criado pela OMS para distribuir vacinas pelo mundo, dificilmente alcançando o plano original de abastecimento de 130 países em desenvolvimento. Hesitação inicial do Brasil em investir na produção de vacinas por instituições brasileiras como o Instituto Butantã, concluir ACAs com empresas farmacêuticas ou autolimitação na compra do número máximo de doses oferecidas pelo consórcio promovido pela OMS, puseram o programa nacional de imunização em sério perigo de não realizar as metas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, causando aumento significante da mortalidade e sérios danos a saúde da população brasileira, entorpecendo também possibilidades de uma recuperação sustentável da economia.  

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Nathanael Alves Filho disse:

    Além da insuficiência, houve a irresponsabilidade de mandar aplicar as vacinas sem a devida reserva para a segunda dose.
    Nossa realidade é preocupante.

  • Sonia disse:

    Situação aterrorizante. Esses políticos já deveriam ter sido afastados, deveriam estar presos, mas não, estão rindo e cantando sobre o sofrimento do povo. Revoltante.

  • Marceleuze disse:

    Análise macro da situação sanitária do mundo evidenciando, mais do que o despreparo, a resolução governamental de desconhecer as advertências da Ciência.
    Os resultados falam por si.

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