Faux-pas diplomático

Quando perguntado com que espírito assumia seu posto diplomático, Juracy Magalhaes, então embaixador designado do Brasil em Washington DC em 1964, comentou extemporaneamente, “[…] que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.” Postura duramente criticado pela implícita subserviência aos interesses e política externa norte-americana. Segundo um ex-diplomata brasileiro, “ […] o embaixador Lincoln Gordon, esquivou-se de comentá-la de modo negativo, mas em privado considerava-a efetivamente como uma expressão infeliz, que em nada ajudou na conformação de uma boa imagem pública em prol do bom relacionamento entre duas nações soberanas”. Magalhães foi o último embaixador brasileiro sem formação diplomática a ocupar a embaixada de Washington DC, há mais de meio século.

A tradição diplomática brasileira é baseada no respeito mútuo e convivência pacífica, sem desejos de hegemonia política ou econômica. Os Estados Unidos têm um papel diverso ao nosso, não necessariamente opostos, por sua influência geopolítica, a letalidade de suas forças armadas e a pujança de sua economia. Compartimos valores democráticos, sem exclusividade ou personalização das nossas de relações bilaterais.

Nomear um filho do Presidente como embaixador do Brasil nos Estados Unidos, baseado em supostos laços de amizade com o Presidente Trump e família, vai na contramão de um dos princípios mais fundamentais da diplomacia: países não têm amigos, têm interesses. O imbróglio envolvendo dois navios transportando milho brasileiro para o Iran, é um exemplo do jogo de interesses contrários e divergências que vão prosseguir no comércio bilateral e mundial, no qual os americanos são simultaneamente parceiros e competidores do Brasil. Dependendo do setor e do momento, no qual as garras protecionistas do “America First” de Donald Trump e seu desprezo pelas regras multilaterais prejudiquem os interesses do Brasil.

Palmarí H. de Lucena, membro da UBE