Três séculos passados, o escritor Jonathan Swift, autor da Viagens de Gulliver, antecipou a era da pós-verdade em que vivemos, em uma das suas frases mais famosas: “A falsidade voa, e a verdade vem mancando depois, de modo que quando os homens se tornam esclarecidos, é tarde demais”. Estudo realizado recentemente por cientistas do renomado MIT (In stituto de Tecnologia de Massachusetts) quantificou as observações de Swift, demonstrando que a verdade leva seis vezes mais tempo, do que as falsidades para alcançar o mesmo número de pessoas, sem nunca obter o mesmo nível de amplificação das falsidades disseminadas nas mídias sociais.

Dano causado por falsos “fatos” sobre vacinas postados indiscriminadamente no mundo cibernético, têm afetado negativamente campanhas de imunização. Mal-entendidos, teorias científicas questionáveis, fundamentalismo religioso e uso indiscriminado de fake news, vêm contribuindo para um dos mais desconcertantes fenômenos da saúde pública. Apesar do potencial de vacinas salvar vidas e proteger populações contra doenças infeciosas, milhões de pessoas que poderiam beneficiar-se de imunização, estão optando em postergar ou mesmo recusar-se a ser imunizadas, devido a temores não substanciados ou simplesmente falta de interesse.

O impacto de vacinas na saúde publica é notável. Varíola, uma doença que causou a morte de milhares de pessoas na história humana, desapareceu da Terra. Poliomielite, que matou e invalidou crianças, está à beira da extinção. As taxas de sarampo, tétano, coqueluche e outras doenças, são hoje frações do que eram em décadas recentes. Triunfos, não obstante, têm pouco sucesso em coibir fake news sobre vacinas e percepções errôneas sobre o número de pessoas protegidas por imunização. Segundo a OMS, 85% das crianças do mundo são vacinadas contra pelo menos uma doença. Medos infundados sobre a segurança e eficácia de vacinas, são ameaças para a saúde pública e o bem estar de populações vulneráveis à riscos de contágio e alta mortalidade.

Palmarí H. de Lucena, membro da UBE