Fotografias da destruição paulatina da barreira do Cabo Branco e “Altiplano Nobre”do Cabo Branco, postadas em 2019, mostraram dramaticamente a extensão e o alcance da tragédia ecológica esperando acontecer há décadas. Colorido pela areia de tons ocre da falésia, o mar esmeralda transformou-se em um relicário enferrujado do desrespeito e o uso predatório de nossos recursos naturais, em nome do turismo e do desenvolvimento sustentável. Estamos construindo nossa versão do Litoral Norte de São Paulo e Petrópolis, os vilões no entanto sendo as consequências não intencionadas de políticas públicas e desenvolvimento enfatizando processos inerentes ao meio físico em detrimento ao meio biótico. Até hoje, nada foi feito para mitigar danos dos deslizamentos causados pela chuva em 2019!
A degradação do meio ambiente pela construção de novas vias de acesso, expansão urbana ao longo da PB-08, exploração e supressão da Mata Atlântica e a impermeabilização do solo remontam ao Plano Turístico do Cabo Branco lançado em 1988, um modelo turístico inspirado no polo de Cancún no México. Considerado hoje como um exemplo vivo da perda de biodiversidade local e regional cujos recursos naturais foram degredados pelo desenvolvimento urbano e turístico não planificados à revelia de restrições ambientais, o mesmo poderia ser arguido no caso do Cabo Branco, após um investimento de R$400 milhões pela Prefeitura de João Pessoa.
Apesar da evidente degradação do meio ambiente no Polo Turístico, “turistocratas” continuam insistindo em associar práticas predatórias à temática do desenvolvimento sustentável e vincular esta atividade a outras metas, como: geração de emprego e renda e a qualidade de vida da população. Os objetivos de politica frequentemente citados pelos gestores municipais ignoram o fato de que para alcança-los faz-se necessário um igual número de instrumentos de política. Concedendo-se incentivos fiscais para investimentos no Polo Turístico, a Prefeitura reforça o viés desenvolvimentista urbanizando e gentrificando a Orla da Capital, as mesmas práticas que resultaram na devastação ambiental da falésia e do entorno do acidente geográfico mais identificado como um patrimônio natural da nossa cidade e do Brasil, como um todo. Lumpenização financiada por recursos do Erário e dos contribuintes, em benefício de especuladores, empresas construtoras, proprietários de hotéis, replicando velhos conflitos de interesses e práticas corruptas.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores