Impondo regras onerosas para a conduta de membros da burocracia do governo, democracias optam por aceitar um nível de tolerância menos robusto e mais maleável na conduta de políticos eleitos pelo voto popular. Permitindo, portanto, que tais agentes políticos se auto-regulamentem. Lamentavelmente, políticos brasileiros continuam demostrando ser incapazes de sustentar minimamente, ou mesmo aparentemente, o ônus da confiança popular. Ética política passando a ser regulamentada por uma ótica de desconfiança pública, alimentada pelo medo e a metastização da corrupção política por todos os rincões da nossa anatomia democrática. Paradoxalmente, a conduta politica pode ser tão corruptora como essencial, se ética, para nossa democracia.
Múltiplas profissões aplicam normas de conduta geradas por suas associações a indivíduos exercendo relevantes ocupações. Além de estandardizar a prestação de serviços profissionais, essas normas também contextualizam o comportamento ético de seus associados. Médicos, engenheiros, arquitetos, pilotos e outras profissões são passiveis a sérias sanções quando extrapolam limites de suas reponsabilides profissionais ou comportamento ético. Política é diferente porque a profissão não é associada a algum tipo de treinamento ou filiação a uma associação profissional. Práxis política em democracias, entretanto, é essencialmente participativa e coletiva.
As manobras e o debate ad-nauseum sobre os procedimentos a ser aplicados ao processo da cassação do Presidente do Congresso Nacional ilustrando as dificuldades de chegar a uma decisão coletiva sobre a conduta política apropriada. A qualidade ética da política em uma democracia depende grandemente da ética da relação entre o povo e seus reprentantes políticos. Qualidade ausente no comportamento dos envolvidos em atividades corruptas, deslizes éticos ou uso indevido da franquia otorgada pelo voto popular, como demonstrado nos anais da Operação Lava Jato.
Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores