Espanha agoniza…

Excitante, a única palavra que encontramos para descrever a silhueta de Salamanca. Atravessamos lentamente a ponte romana sobre o Rio Tormes, catedrais e igrejas surgiram repentinamente nas três colinas da cidade. Bela e efêmera miragem no final de uma jornada irritante pelos campos áridos de Castela. Elegância banhada delicadamente pelos raios de sol do final da tarde, justaposta com a homogenia dourada das pedras de suas magnificas construções. Que inveja daqueles que passam anos, mesmo alguns meses, no meio de tanta beleza. Nosso romance com Salamanca começou naquele dia, nossa primeira visita.

Voltamos várias vezes. Caminhamos pelo labirinto de ruas estreitas e pequenas praças que nos remetiam aos conventos e mosteiros a séculos quase imemoriáveis. Sempre na direção da Plaza Mayor, o picadeiro de todas as emoções e contradições da historia da Espanha. Mistura inconsútil do presente com o passado. Jovens vestidos em trajes da moda contemporânea, que enfatizavam estilos anti-têndencia, ziguezagueavam distraidamente pelas esquinas e o quadrilátero central. Congregados na sombra das arcadas, grupos de idosos e aposentados sussurravam apreensivamente sobre a situação da Espanha. Temerosos pela crise econômica desentranhando os poucos vestígios do progresso e da Euro-abundancia que prometia um futuro melhor para todos. Mesas dos cafés vazias formavam uma visão preocupante das incertezas do momento. Espanha agoniza…

Seguimos nosso roteiro habitual pela Calle Libreros em direção à Universidade de Salamanca, reputada como a mais antiga da Espanha. Chegamos a ¨Praça da Escolas¨, um logradouro tranquilo dominada pela estátua do grande poeta espanhol do século XVI, o Frade Luís de Leon, também um professor da universidade. Contam que o religioso-poeta resumiu suas lições após ser emprisionado por anos pela Inquisição com as palavras: ¨[…] como estávamos dizendo antes de ser interrompidos”. Tudo nos leva ao passado em Salamanca.

Hoje visitamos outro lado de Salamanca: medo do futuro e desorientação. O ar rarefeito do campus não os imuniza contra os males e as dúvidas do presente, nem parece prepará-los para o elusivo futuro. Chamados de ¨nimileuristas¨, uma geração condenada a trabalhar por salários que nem alcançam mil Euros por mês, um pouco mais do que o mínimo, independente do conhecimento, grau de escolaridade e uma ilustre passagem pelas salas da universidade. Muitos pensam em emigrar para países emergentes em busca de trabalho, outros simplesmente desaparecem nas filas de benefícios sociais ou desemprego. Quem sabe, talvez voltem um dia para continuar suas classes, retomar suas vidas como antes de serem interrompidos em seu passado de glória…