Entre Vidros e Mistérios

Entre Vidros e Mistérios

No coração de Paris, onde o passado parece sussurrar através das pedras, ergue-se uma figura inesperada: a pirâmide de vidro de I. M. Pei. Ao primeiro olhar, ela parece deslocada, como se tivesse caído ali por engano, mas basta um instante para perceber o quanto pertence àquele lugar. Sob o céu cinza ou iluminada pelo sol, ela captura a essência do Louvre – um encontro entre o antigo e o eterno.

Passar pela pirâmide é como atravessar um portal. Sob sua transparência geométrica, o tempo parece se curvar, permitindo que o presente entre em harmonia com os ecos de séculos passados. Ao descer as escadas em espiral, você sente que algo o guia, como se a própria arquitetura quisesse conduzi-lo até ela: a Gioconda.

Nos corredores do museu, a Mona Lisa não é apenas uma obra de arte; é uma promessa. E, quando você a encontra, cercada por vidros e olhares, há um momento de pausa. Pequena, quase discreta, ela parece desarmar a grandiosidade do lugar ao seu redor. Mas é o sorriso que rouba a cena. Um sorriso que não se revela por completo, que escapa como um sussurro de segredo, que convida a olhar mais fundo.

O que há de curioso é que, assim como a pirâmide lá fora, a Mona Lisa provoca o mesmo tipo de reação: amor ou dúvida, fascínio ou ceticismo. Ambas carregam algo de enigma – uma quietude que transcende o tempo. A pirâmide, com suas linhas precisas e moderna leveza, reflete a luz de um mundo em constante mudança. A Mona Lisa, com sua expressão indecifrável, captura algo essencial e imutável no humano. E é nessa tensão entre o fugaz e o eterno que as duas se encontram, mesmo separadas por séculos.

Saí do Louvre ao cair da tarde, quando o vidro da pirâmide começava a refletir as luzes da cidade. O sorriso de Lisa ainda me acompanhava – não o sorriso dela, mas o que ela deixa em você. Fiquei ali parado, olhando para a pirâmide, e me dei conta de que elas têm a mesma alma. Ambas olham para o mundo com o mesmo mistério, desafiando respostas fáceis. São, ao mesmo tempo, espelho e porta: refletem o que somos e convidam a entrar no que não sabemos.

Palmarí H. de Lucena – Paris 2024

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